terça-feira, 10 de junho de 2008

Maceió - novembro/2007


De Suape até Maceió tivemos outra noite muito tranqüila, apesar de algumas ondas cruzadas nos balançarem bastante. O vento foi aumentando pela manhã e chegamos a Maceió com 20+ nós de vento, em popa rasa, só de genoa e pegando uns bons jacarés. Demoramos também cerca de 16 horas.












A ancoragem em Maceió é bem próxima ao porto, em frente à Federação Alagoana de Vela e Motor. Ao lado, uma antiga vila de pescadores inchou com a chegada de novos moradores e tornou-se uma comunidade bastante empobrecida, com barracos sem água e esgoto, com aquela aparência desorganizada e feia.







Ficamos obviamente preocupados com a segurança do barco. Mal havíamos ancorado um sujeito numa canoa nos acena indicando uma poita próxima. Gesticulamos que não, mas como o cara insistiu acabamos indo para a tal poita. Amarrações feitas agradecemos, nos apresentamos ao Carlinhos e perguntamos quanto seria a poita, etc. Ele disse que não era nada. Escaldados por situações semelhantes insistimos e nada do homem dizer valores. Bom, como não havia muito que fazer aceitamos uma carona pra terra e fomos cuidar da vida. Achamos que o Carlinhos ia nos dar aquela facada. Mas que nada, o cara era gente fina mesmo: comprou um novo botijão de gás e nos ajudou a trocar, esperou acordado numa madrugada em que voltamos tarde e estava sempre disponível para nos levar e trazer ao Pajé. Em nenhum momento tocou no assunto dinheiro, mas claro que deixamos uma merecida caixinha em nossa saída. Ficamos a vontade para circular inclusive a noite no meio dos barracos. Nos sentimos acolhidos e tranqüilos no meio daquela bagunça toda. Mais uma boa lição sobre como o infeliz preconceito nos limita.




Fizemos longas caminhadas regadas a água de coco pela orla e praias de Jaraguá, Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca. Fomos de táxi-lotação a Barra de São Miguel, um lugar lindo. Aliás, nem sei se esse negócio de táxi-lotação é um fenômeno exclusivamente nordestino. Por aqui alguns táxis pegam diversos passageiros ao mesmo tempo e cobram o mesmo preço ou um pouco mais do que os ônibus. Assim, fazer de táxi o trecho da Barra de São Miguel até Maceió, cerca de 30 km, nos custou 3 reais por pessoa. Parece um bom negócio, não é?
E foi um ótimo negócio. O motorista ostentava longas madeixas e parecia bastante orgulhoso da sua cabeleira. Não resisti: —“Rapaz, como é que vc consegue um cabelo bonito desses? Sou louco pra ter igual, mas a mulher não deixa!”
— “Não é vaidade não, é que eu trabalho com isso”.

Bom, o Michel Carlos era intérprete, cover e fã incondicional do Rei. Sabia tudo da vida do cara - data de aniversário, vida pessoal, falas, shows, tudo! Também gostamos das músicas do Roberto Carlos e estava armada a festa. Fomos passeando pelo lindo cenário que liga Barra de São Miguel a Maceió ao som de Michel Carlos interpretando o Rei. Filmamos. Outra passageira que calhou de estar lá desacreditou no que via. Fotografamos uma placa que continha tantos erros que poderia concorrer ao Guinness. A coisa toda estava tão gostosa que o Michel nos levou além do ponto combinado e ainda nos deu um CD autografado de presente! Demais!
Saímos de Maceió num sábado de manhã com o leme de vento a postos. Estávamos curiosos para testá-lo após inúmeras idas e vindas, reparos e ajustes e queríamos aproveitar o ventinho que estava propício.
Mas ainda não foi dessa vez... Acho que dei uma bobeada na montagem das engrenagens e ele só corrigia o rumo para um lado. Como adoramos velejar, mas não a ponto de ficar navegando em círculos indefinidamente, resolvemos desativá-lo e voltar ao piloto automático eletrônico.

Estávamos os dois na popa entretidos nessa tarefa quando vimos um pequeno barco de pesca passando a poucos, muito poucos metros. Santa displicência Batman! Dois idiotas navegando sem olhar pra frente. Passamos raspando nos pescadores ancorados. Acenamos uns aos outros como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, mas aqueles caras devem ter passado uns bons minutos preocupados vendo a proa do Pajé se aproximando. Por nosso lado ficamos envergonhados e reaprendemos a lição. Não dá pra bobear.

O mar é grande, mas tem trânsito. Tanto tem que no dia seguinte tivemos nosso dia de caça: um grande navio surgiu pela popa exatamente em nosso rumo e veio se aproximando. Nosso rádio VHF tinha pifado em Maceió (mais um...) e não tínhamos como contatá-los. Ainda bem que era dia, senão teria sido show de horror! Apenas quando estava bem próximo o navio desviou, passando a menos de 100 metros a boreste. Fomos saudados por uma buzinada e acenos da tripulação.
E além de trânsito o mar também tem edificações. Passamos por algumas plataformas e ficamos impressionados com o som das chamas que saiam de uma chaminé. Imagine trabalhar sobre um barril explosivo com aquele barulho de maçarico gigante noite e dia.


Havia refeito nossa isca e linhada - presente de uns pescadores em Ilhéus - conforme aprendido. Recorte um rótulo desses laminados prateados, retalhe uma das extremidades e cubra o anzol. Simples. Pegamos o dourado entre Salvador e Recife com essa isca.
E funciona mesmo. A Paula estava cochilando no meu colo e foi acordada com o pulo que eu dei ao sentir o tranco na linha.
Que peixão! Uma cavala de mais de metro. O maior peixe que já pesquei. Lindo. Passei um bom tempo limpando, preparando filés e postas. Depois nos fartamos de sashimi. À noite a Paula preparou um assado com batatas, cebolas e tomates. Demos grandes postas ao pessoal da marina em Salvador quando chegamos e ainda rendeu uma moqueca divina.


Chegamos a Salvador de manhã cedinho e fomos ao CENAB, em frente ao mercado modelo, onde normalmente ficamos. Lá estava lotado por conta da regata Transat Jacques Vabre que cruza o Atlântico entre a França e o Brasil. Barcos super arrojados como o trimarã Groupama, vencedor deste ano, ocupavam todas as vagas. Pena que não pudemos ficar por lá e curtir esses barcos um pouquinho.

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