sexta-feira, 20 de junho de 2008

Grenadines - junho/2008


Nossa estada em Tobago Cays estava deliciosa com os mergulhos e as velejadas, mas entrou um ventão e balançou tudo. Como apenas uma barreira de coral separa a ancoragem do mar aberto, qualquer vento e/ou swell maior torna o lugar desconfortável. Decidimos procurar outra ancoragem e voltar lá quando as condições estivessem mais favoráveis.
Rumamos para Canouan e os dois barcos trabalharam bastante por algumas horas em uma orça apertada. A ilha é pequena e sem muitos atrativos. Uma boa parte pertence a um grande resort com campo de golfe e tudo mais. Ancoramos próximo a uma base da Moorings, uma grande empresa de charter. Fortes rajadas de vento desciam das colinas e faziam os barcos sambarem de um lado pro outro. Demos uma caminhada pela vila, subimos o morro para avistar os dois lados da ilha e como nada nos empolgou saímos no dia seguinte com destino a Bequia, 20 milhas a Norte-Nordeste.



A navegada até Bequia foi muito tranqüila e rápida. A ancoragem principal é em Admiralty Bay, uma grande baía com belas praias. Muitos veleiros espalhados pelo local. Ancoramos perto de um catamarã com bandeira canadense. Água cristalina.

A orla é muito charmosa. Diversos estabelecimentos estão localizados bem junto ao mar e uma estreita calçada permite que você caminhe entre os mesmos e a água. Muitos dinghy-docks (pequenos atracadouros para os botes) facilitam o acesso ao comércio. Os tais dinghy-docks estão por toda a parte aqui no Caribe e são muito utilizados, parece estacionamento de shopping center, difícil achar vaga as vezes. Muito melhor do que parar na praia, descer molhando os pés e ainda ter que arrastar o bote para longe das ondas.

Ao final da tarde, curtindo o visual do cockpit somos brindados com o casal do catamarã canadense tomando seu banho peladinhos na popa. Mostrei pra Paula, que não se interessou pelos atributos do sujeito. Também não me interessei pelo sujeito, mas não pude deixar de notar que a porção feminina da tripulação era beeem avantajada em sua parte superior...

Levamos a genoa para costurar, já que a mesma havia sido rasgada pelos trogloditas que instalaram os estais e o novo enrolador. Esses caras, aliás, além de terem rasgado a vela conseguiram perder peças, danificar nossa antena do rádio SSB, colocar nosso bote na água sem o bujão (tampinha que veda a entrada de água), emporcalhar o convés inteiro e outras... Uma lástima.

Quando estamos recolocando a vela no lugar ouço um estalo muito estranho e a adriça (cabo usado para içar a vela) fica frouxa de repente. Subimos ao tope do mastro e encontramos a junção do enrolador/headfoil partida em dois! Não fazia duas semanas que havíamos trocado tudo. Escolhemos uma das melhores marcas – Harken - e tudo foi instalado pelos “profissionais”. Inacreditável! Sem enrolador de novo!

O Tutatis também estava tendo problemas com suas baterias recém instaladas. Barcos...
Conversando durante uma pizza concluímos que não valia a pena continuar subindo em direção a Santa Lucia com o Tutatis sem baterias e o Pajé sem enrolador, ainda mais por já estarmos na Hurricane season. Para compensar iríamos a Mustique, que não havíamos visitado na subida até aqui.
Bem, pelo menos essa história do enrolador serviu para a Paula tirar umas boas fotos do alto do mastro e ilustrar o cabeçalho do blog.



Mustique é bastante conhecida por se tratar de uma ilha particular e ser freqüentada por famosos bilionários. Tem cerca de 5 km quadrados e não se pode ancorar em suas praias. Para ficar lá é obrigatório usar poitas e pagar por elas. O custo é bastante razoável, US$ 30 por três noites. E vale cada centavo. Tão bem cuidada e limpa que até parece casinha de bonecas, tudo bonitinho no lugar. Bicicletas desembarcadas demos uma volta pela ilha e constatamos o quão impecável era. Pequeno aeroporto (vocês não acharam que os bilionários iam sacolejando de veleiro para lá, acharam?), hípica, biblioteca, escola, estradas, praias, quadras de tênis, hotel hipermegasuper exclusivo, e alguns poucos estabelecimentos comerciais. Entre eles, o Basil´s bar, sobre palafitas e de muito bom gosto. Fomos lá todos os dias acessar a internet wifi e tomar sucos e sorvetes.
Mergulhávamos durante o dia e corríamos no final da tarde. Um lugar delicioso de fato. Numa das noites a Paula e eu mergulhamos pelos corais próximos de lanterna em punho e nos divertimos muito. Nadar pelado a noite é mesmo muito bom!

Por falar em pelado, adivinhe quem aparece em Mustique e (para desespero da Paula) fica bem ao nosso lado? Isso mesmo, a nossa Fafá canadense...

Mais divertido ainda é observar as galinhas. Quer dizer, não são galinhas, mas como não somos correspondentes da National Geographic não vamos entrar aqui numas de catalogar os animais tipo assim “avis caribicas”. Para facilitar chamaremos esses pássaros de galinhas. Na maior parte das ancoragens por aqui sempre encontramos essas “galinhas”. Por estarem habituadas aos barcos e seus costumes elas já desenvolveram alguns comportamentos peculiares. Basta você se sentar a mesa no cockpit e um bando se aproxima, com algumas sobrevoando o barco e outras boiando bem ao lado. Você começa a comer e elas começam a algazarra. Ficam te olhando e grasnando, reclamando. Impressionante. E quando se atira restos de comida aí é que a coisa pega pra valer. A habilidade com que essas aves apanham a comida no ar é absurda.
Passado o frenesi, lá vão elas para o próximo barco. Acho que elas nem pescam mais, tantos barcos por aqui.

Aqui nos separamos do Tutatis, que voltou a Grenada para resolver seu problema com as baterias. Nós fomos a Mayreau, pois teríamos que esperar as peças do enrolador chegarem a Trinidad.


Estávamos de olho em Mayreau há algum tempo, pois pelas indicações nas cartas náuticas e nos guias parecia muito convidativa por alguns motivos: é colada no Horseshoe reef, tem apenas duzentos habitantes, 3 km quadrados e uma pequena baía. Chegando lá, confirmamos nossas melhores expectativas - uma pequena baía com belíssima praia de areia branquinha e os indefectíveis coqueiros, água ultra-transparente e um laguinho de tão calma. O melhor de tudo é que esta praia está separada de outra apenas por uma estreita faixa de areia e coqueiros. A outra praia é relativamente extensa, protegida por uma barreira de corais, águas rasas e com vento! Ou seja, ideal para kitesurf. Mal podíamos acreditar. Os kites estavam mofando dentro do barco desde João Pessoa. Na realidade, havíamos tentado em Tobago Cays, mas tivemos o azar de rasgar o kite da Paula na hora de montar e não conseguimos velejar por lá.
Em Mayreau fomos à forra e tiramos a barriga da miséria. Nossa agenda lá tinha um único compromisso: velejar de kite. E só usando gíria mesmo para descrever o pico – irado! Velejávamos vendo o fundo passar bem pertinho, principalmente perto da arrebentação na barreira de corais, onde às vezes um ou outro aflorava (uia, que meda!).































Num ou noutro pulinho mal dado cheguei a encostar o fofo nos corais quando caía, mas sem maiores conseqüências. As ondinhas estavam pequenas, transparentes e bem formadas, irresistíveis enfim. Só precisávamos tomar cuidado ao decolar e pousar, pois a faixa de areia é bem estreita e qualquer vacilada perde-se o kite na vegetação espinhosa. Conhecemos o Hans e a Kristen do veleiro Whisper que estavam aprendendo a velejar de kite e conseguimos ajudá-los um pouco. Eles nos contaram que aquela praia foi usada em uma das cenas do filme Piratas do Caribe.

Vimos chegar o Milo-One, que Georges e Elke nos haviam falado a respeito. Em instantes nos tornamos amigos da Sabrina, Yvan e seu filhinho Oscar, de dois anos e meio de idade. Apesar das conversas serem realizadas num misto de francês, inglês e português nos entendíamos perfeitamente e passávamos divertidas horas juntos todos os dias na praia ou nos barcos. Brincar com o Oscar aumentou ainda mais a saudade do burugundunzinho... E também chegou por lá o Sergio do Guizzi, mas como skipper em um outro veleiro com passageiros em charter.


O John e a Ann do veleiro Livin´ the Dream organizavam um jogo de vôlei na praia todas as tardes. Parecia uma sala de reuniões na ONU, tantas nacionalidades presentes. Não posso me furtar a comentar que o combinado Brasil-Suécia fez bonito...

Quando estava tudo assim, maravilhoso, quebra nosso dessalinizador (também novo e recém-instalado). Saco. Aí não teve jeito, tivemos que começar nosso retorno a Trinidad. Junto com o Milo-One retornamos a Union para dar saída do país e de lá fomos para Carriacou. Como o Yvan e a Sabrina também têm bicicletas a bordo demos uma boa pedalada por lá. Quer dizer, a Paula e eu demos uma boa pedalada. As bicicletas do Milo-One, além de dobráveis são motorizadas eletricamente. Assim, nas subidonas os dois desapareciam dando apenas um toquinho nos pedais enquanto os pobres do Pajé pagavam seus pecados ao implacável sol do meio-dia.

Aliás, esse negócio de sol do meio-dia já virou piada para nós. Em tudo quanto é lugar, não importa se o programa é passear, fazer compras, ir atrás de peças pro barco, enfim, qualquer atividade acabamos fazendo sempre debaixo de um escaldante sol ao meio-dia. Tentamos nos planejar para evitar, mas por um ou outro motivo sempre acabamos fritando. Mesmo com protetor solar e boné é muito sol, acaba com a gente.
Quando estamos derretendo ao sol, caminhando de chinelos, cheios de sacolas, mortos de sede, por vezes perdidos, avistando miragens eu sempre pergunto pra Paula que horas são. A resposta, óbvio, meio-dia. E caímos na risada. Pobre também ri a toa.
E que prazer encontrar um botequinho e tomar uma cervejinha bem gelada. Tão simples, tão bom.

Retornamos do passeio de bicicleta e quem vemos em Tyrrel Bay? Isso mesmo, o catamarã canadense, só que dessa vez (para minha decepção) ancorado longe do Pajé. No dia seguinte o Yvan e eu resolvemos dar uma velejada de windsurf já que o vento, apesar de inconstante, estava forte. Claro que até montarmos os dois equipamentos, etc e tal quando caímos na água o vento tinha acabado. Um clássico. E toca a guardar tudo de novo. Como a velejada havia sido frustrada, caímos na água para limpar o fundo do barco. Minutos depois uma grande arraia se aproxima curiosa e fica nadando ao nosso redor, atenta. Foi engraçado. Em geral quando mergulhamos temos a sensação que somos os observadores, mas desta vez nos sentimos os observados.

De Carriacou fomos a St George´s em Grenada, onde fizemos compras e abastecemos de água. A ancoragem dentro da baía de St George´s, antes pública, foi cedida a uma marina e agora se paga para ancorar. Coisas do progresso.

Deixamos Grenada ao final do dia em direção a Tobago, que ainda não conhecíamos.
Mas ainda não ia ser desta vez. O vento e o mar estavam bem na cara e andávamos a menos de 4 nós, enfiando a proa na água a cada onda que passava. Eu, grande navegador, estava com tal dor nas costas que mal conseguia me mexer. Depois de algumas sofridas horas nessa situação decidimos mudar o rumo para Trinidad, evitando navegar contra o mar e vento. A almirante Paula novamente mostrou grande competência e conduziu seu barco e velho marinheiro com segurança.

Chegamos a Trinidad pela manhã, fizemos imigração e contatamos todos nossos caros e confiáveis fornecedores. Como desgraça pouca é bobagem, desmontamos o acoplamento do motor ao eixo e descobrimos que precisamos trocá-lo...
Assim, tudo indica que nossa estada por aqui vai ser como foi da outra vez, cheia de trabalho.

Mas tudo tem seu lado bom: reencontramos Alex & Kátia e Georges & Elke. O pessoal do Milo-One também está por aqui. Não vai faltar boa companhia para a Paula quando eu for ao Brasil apanhar o super sagüi, meu guri, moleque, amado burugundunzinho Alex para passar suas férias conosco.

Escrevemos um tempo atrás que amigos são mesmo tudo de bom. Vamos finalizar este relato com um texto que nos deixou emocionados. O amigo-autor, modesto, quer permanecer anônimo...







Bolo de Chocolate

Nunca gostei muito disto, mas o fato é que eu nasci em janeiro e, portanto o meu aniversário é sempre nas férias. Quando eu era pequeno, na década de 60, eu estava em casa na véspera do meu aniversário e a minha mãe prometeu me fazer um bolo de chocolate para comermos no dia seguinte, com uns primos que viriam na minha festinha de aniversário, à tarde.
Sentei-me à mesa na copa, contígua à grande cozinha da nossa casa no Ipiranga e debrucei-me na mesa enquanto o bolo estava assando no forno. Era janeiro, fazia calor em São Paulo e um ventinho fresco entrava pela janela acima de mim. A programação da televisão só começava depois das 18:00 horas e eu, então, adormeci. E sonhei como sonham os meninos em férias na véspera do aniversário.

No dia 24 de setembro de 2007 eu cheguei a Recife, vindo de São Paulo, em um daqueles vôos mais baratos conhecidos como “Corujões”. Desembarquei às 05:30 horas de um dia lindo, com um nascer do sol que só no Nordeste a gente vê. Tomei café no aeroporto e fiquei fazendo uma hora, pois era muito cedo ainda. Mais tarde eu iria pro Cabanga Iate Clube, porque no dia seguinte iria participar da Regata Internacional Recife-Noronha com o pessoal do Pajé. Pra quem não conhece, o Pajé é um veleirão de alumínio de 47 pés, forte, bonitão, muito confortável e preparado para viagens oceânicas. O Pajé tem a sorte de ter o Marião Maia como seu comandante e este, a sorte de ter a Paula como a sua “comandanta”.

Sem nada o quê fazer fiquei perambulando pela cidade até quase a hora do almoço quando um táxi me deixou dentro do Cabanga Iate Clube. Logo identifiquei o Mario e a Paula, fomos pro Pajé e, como eu era o
primeiro da tripulação a chegar, já coloquei minhas coisas na cabine de proa. O Mario e a Paula haviam colocado todas aquelas tranqueiras que a gente vai colecionando dentro do barco, na proa, rebatido todas para bombordo e colocado o colchão sobre elas, de tal sorte que ficou um nicho super aconchegante entre o
colchão e o costado, como uma toca, bem abaixo da gaiúta de ventilação.

Saímos para almoçar na varanda do Iate Clube, conhecemos um casal de São Paulo super simpático e o papo rolou até lá pelas 3 da tarde. Nesta hora começou bater uma soneira brava, eu não tinha dormido direito à noite por causa da viagem e só pensava na cabine de proa do Pajé. Passei por cima de uma meia dúzia de veleiros atracados a contrabordo e finalmente cheguei à cabine de proa do Pajézão. Aninhei-me entre o colchão dobrado e o costado, a gaiúta aberta deixava um ventinho gostoso entrar e no embalo da maré, dormi. Dormi profundamente bastante tempo até que sonhei. Sonhei com um menino debruçado na mesa da copa-cozinha de uma casa no Ipiranga.

Acordei e demorei um segundo para perceber que o cheiro do bolo de chocolate que estava no ar não vinha do forno da minha mãe, mas do salão do Pajé. A Paula havia feito um bolo de chocolate e o cheiro característico agradavelmente se espalhava pelo salão. Perdi a vergonha e imediatamente pedi um pedaço pra Paula. A resposta dela, incrível, foi exatamente igual à da minha mãe: “Ainda está quente...espere um pouquinho, bolo quente dá dor de barriga”. Rimos da brincadeira enquanto ela fazia um café e me servia, ainda quente, um pedaço daquela maravilha. Devagar, em silêncio, embalado pelo balanço do Pajé, comi aquele bolo de chocolate. E me senti pleno, em paz total. Feliz como um menino em férias, na véspera do seu aniversário.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Grenadines - maio/2008

Deixamos Chaguaramas de madrugada com destino a Grenada, distante umas 70 milhas a Nordeste. Uma navegada muito tranqüila e ensolarada. Tanto que demos uma ajudinha com o motor já que o vento estava bem fraquinho e meio contra.
Chegamos a Prickly Bay no inicio da tarde, ancoramos e fomos direto a imigração e alfândega, em um prediozinho bem simples e simpático dentro de uma marina.
Vale comentar que as maiores e mais movimentadas ilhas do Caribe têm diversos postos de imigração e alfândega distribuídos pelas ancoragens mais freqüentadas. Isso facilita muito quando se chega pelo mar evitando deslocamentos para a cidade, etc. Fomos recebidos muito bem, mas como não tínhamos visto de entrada nossos passaportes foram retidos até que fossemos ao escritório central (na cidade, claro...) para obtenção do visto no dia seguinte. Tudo numa muito boa, só nos solicitaram que não saíssemos daquela ancoragem e até sugeriram o restaurante da marina para já aproveitarmos a estada. O escritório central era muito organizado e em poucos minutos saímos com nossos vistos.

Grenada é conhecida como Spice Island por ser uma grande produtora de temperos, em especial a noz moscada, que está representada na bandeira nacional. O chocolate daqui também é muito bom. “Descoberta” por Colombo em 1498 a ilha foi alvo de disputa entre ingleses e franceses (que dizimaram os nativos caribs) por cerca de 150 anos. Tornou-se independente em 1974 e foi invadida pelos EUA em 1983 após uma série de distúrbios políticos e uma crescente influência cubana. Hoje é uma democracia e tenta reerguer-se economicamente. Tem aproximadamente 100 mil habitantes e o pessoal é muito sorridente e simpático.

Prosseguindo com as boas surpresas encontramos o Elio com seu veleiro Crapun, que havíamos conhecido em Recife durante os preparativos para a regata Recife-Noronha. E daqui a pouco quem entra na baía? O Tutatis, com a Sandra e o Prieto.
Arranjos feitos fomos todos comer uma pizza e colocar o papo em dia. O ponto em comum foram as reclamações do período que todos passamos em Trinidad e o desgaste com a manutenção dos barcos. E, claro, as roubadas que todos passam velejando: panes, muito vento, pouco vento, etc.

Na manhã seguinte fomos juntos ao mercado no centro de St George´s, a capital. Igualzinho as nossas feiras de rua, muito colorido e pitoresco. Compramos um monte de frutas e temperos locais. Aproveitamos para subir uma colina para visitar as ruínas de um forte e avistar a cidade pelo alto. O Prieto chegou lá dizendo que tinha visto uma galinha voando. Nem a Sandra acreditou, mas pelo sim, pelo não fomos lá dar uma olhada na tal penosa voadora. Aí o Prieto fez buuuu, bateu palma, pé, enxotou a galinha e nada da bixinha voar. Compadecido, resolvi ajudar e em instantes a pobre ave se viu perseguida por dois marmanjos resolvidos a contrariar uma das mais básicas leis da natureza: galinha não voa! Bem, pelo menos essa não voou...





A Paula e eu nos aventuramos de bote para conhecer outras baías e pequenas ilhas, que pareciam próximas, mas de bote no marzão tudo fica bem mais longe e molhado. Mas valeu muito, vimos lugares lindos como a Calivigny Island e a volta foi emocionante descendo jacarés com o botinho.



Noutro dia fomos com o Tutatis até uma praia distante chamada La Sagesse e a Sandra ainda preparou um delicioso macarrão na volta. Na praia, reputada como uma das mais bonitas de Grenada, comentamos como estamos mal acostumados com as praias brasileiras. Não é fácil se impressionar depois de ter conhecido nossas praias!
E descobrimos que o Elio também é amigo e colega de Unicamp do Fabio Reis.
Esse Fabio sempre na espreita, como ele mesmo diz...




Saímos de lá e fomos para Carriacou, distante umas 30 milhas de Grenada, mas ainda parte do mesmo país. Chegamos a Tyrrel Bay, o lugar com mais cara de Caribe que havíamos visto até então. Ancorados em três metros de profundidade finalmente nos sentimos recompensados vendo areia, âncora, corrente e a sombra do Pajé no fundo.










Tiramos as bicicletas de seu longo período de descanso e mandamos ver nos pedais. A ilha nos causou uma ótima impressão. Uma delícia pedalar nas estradas bem conservadas, cênicas e sem trânsito. Uma praia mais bonita que a outra, visuais de cartão postal como Paradise Beach, White Island e Sandy Island. Um único pequeno defeitinho é em relação ao abastecimento. Não há supermercados ou coisas do tipo. Então toda comida é comprada em pequenas vendinhas e/ou barracas na rua. Carne fresca? Necas de pitibiribas! O que se acha, às vezes, são umas bandejinhas com carne moída ou frango congelado, sem nenhuma identificação de peso, preço ou data de validade. Peixe fresco, por incrível que pareça, também é difícil. Tem um pessoal que vem de bote até o barco oferecer, mas o preço e a cara do peixe em geral desanimam. E para conseguir peixe em terra tem que se estar na hora certa e no lugar certo - quando chegam os pescadores. Mas nisso os moradores locais são bem melhores que a gente e não conseguimos comprar nenhum. Mas faz parte, antes isso do que trânsito.



E assim ia a vida quando vimos o Crapun e pouco depois o Tutatis chegarem a Tyrrel Bay. No dia seguinte combinamos com o Tutatis irmos pingando de ilha em ilha até Santa Lucia, 120 milhas a nordeste, para de lá começarmos a voltar. Queremos evitar ficar muito ao Norte durante a estação dos furacões. O Elio resolveu ficar por Carriacou mais um pouco.


Demos saída na imigração e alfândega e fomos para Petit Saint Vincent, a menos de 10 milhas. PSV, como é chamada, é uma ilha que o governo de Saint Vincent concedeu a um hotel. Assim, as praias e formações coralíneas são acessíveis a todos, mas para caminhar no interior da ilha só com permissão do hotel. A ilha é mínima, rodeada por praias encantadoras. De lá fomos de bote até Morpion, uma mini-ilha (na realidade um banco de areia convencido) cercada de corais com uma única palhocinha de folhas de coqueiro no meio. Linda, mas só isso, boa para tirar fotografia. Farofeiros que somos rolou uma partidinha de frescobol além do mergulhinho básico.


Mergulhando em PSV o Prieto encontrou uma arapuca abandonada com peixes dentro! Após uma delicada operação de captura o Tutatis pode nos oferecer um jantar com peixinho fresco. Sorte nossa, porque a Sandra é uma cozinheira de mão cheia. E triatleta fissurada num treino. Bobeou, tá nadando ou correndo. Em qualquer lugar, a qualquer hora. Influenciáveis que somos entramos na brincadeira também.


Nosso próximo porto foi Union, outro pulinho de poucas milhas. Navegar por aqui é essa delícia. Sempre tem vento, você sai e chega no mesmo dia. Só tem que tomar cuidado que é recife pra todo lado, fácil dar uma topada. E muitas vezes navegamos vendo o fundo a mais de dez metros de profundidade.


Em Union pudemos abastecer os barcos com mais facilidade. Mas nada de carne fresca.
Lá pusemos as bicicletas para rodar de novo. O casal Tutatis alugou duas bicicletas e nos mandamos pelas estradas sinuosas e íngremes, muito íngremes. Um passeio de pouco mais de duas estafantes horas e demos a volta na ilha. Para celebrar Pajé foi tomar cerveja, Tutatis foi para a banca de frutas.






Saímos na manhã seguinte para Tobago Cays, ali pertinho também. Trata-se de um parque marinho em que a maior atração é o Horseshoe reef, uma formação de coral enorme em formato de ferradura, como diz o nome, e um famosíssimo destino para os cruzeiristas. O lugar realmente é de uma beleza estonteante, merece a fama. Subimos uma pequena colina numa das ilhas e enchemos os olhos e a máquina fotográfica com as trocentas variações de azul que o mar adquire.
Depois mergulhando ficamos ainda mais impressionados com os corais e com os peixes. Aqui no Caribe foi o primeiro lugar em que conseguimos
avistar algo mais do que minúsculos peixinhos de aquário. Vimos peixes maiores e hiper coloridos. Um budião tinha uma boca tão colorida que ficamos alucinados. Todo o contorno da boca era feito por delicadas faixas azuis, amarelas e verdes, tão perfeitas que pareciam meticulosamente pintadas. Um baiacu enorme com dois gigantes olhos esbugalhados ficou nos olhando calmo e simpático, provavelmente divertindo-se com os bichos desajeitados que éramos.
E tive a sorte grande de ver um tubarão passando a poucos metros. Acredite se quiser: não senti medo, pelo contrário, queria te-lo visto por mais tempo. O lugar é tão bonito e harmonioso, não cabia nenhuma sensação negativa. E tudo isso em menos de dois metros de profundidade. Show!



Voltamos satisfeitíssimos para os barcos. Para coroar o dia colocamos a prancha de windsurf na água, uma velejada gloriosa vendo o fundo passar rápido. E vi um tubarão de novo (o mesmo?). O super fotógrafo Prieto conseguiu extrair altas fotos do velho e enferrujado velejador. Deve ser o tal do photoshop...