Duas semanas atrás fomos ao estaleiro para pintar o fundo do
barco.
Contamos com a ajuda do pessoal do Lil´Explorers na manobra,
que consiste em atracar o barco numa plataforma rígida que desce abaixo do
nível da agua, sobe até o nível do solo e depois carrega o barco sobre trilhos.
Foi nossa primeira vez nesse sistema, gostamos. A plataforma era bem justinha para
a boca do barco, as defensas entraram apertadas. Claro que na hora mais crítica
entrou a maior chuva e ventão pra complicar. Todos ensopados, mas a manobra
saiu beleza. Pena que na hora de subir o pessoal do estaleiro apoiou mal o
casco de bombordo e danificou um pouco a fibra na proa.
Pronto, pensamos, começou a novela e o pesadelo... Mas que nada. Desta vez o pessoal do estaleiro foi impecável. No dia seguinte as 7 da manhã já tinha gente trabalhando no reparo e trabalhando bem, antes mesmo de falarmos sobre o assunto. Pela primeira vez na história conseguimos realizar as tarefas planejadas no prazo, apesar do acidente na subida. E sem nenhuma, vejam bem, nenhuma discussão ou problema com o estaleiro. Como é bom quando encontramos pessoas profissionais e honestas. Viva o Astillero Nacional, recomendamos!
Mas calma, não vou desaponta-los, a choradeira começa agora: assim que o barco foi colocado na agua e ligamos os motores começou a entrar agua pela exaustão do motor de boreste, as abraçadeiras não haviam sido bem apertadas. Ancoramos o barco no meio do porto e toca a apertar as danadas.
Ah, falei em porto e lembrei! O estaleiro é ótimo, mas a burocracia no porto de Vacamonte é surreal. Assim que chegamos recebemos a visita da imigração, saúde e controle portuário. Imigração!? Mas já estamos X anos no Panamá! Não teve jeito, tivemos que pagar uma taxa. Inspeção sanitária?! Mas que praga podemos estar trazendo, navegamos somente 15 milhas da cidade até aqui. Mais 90 dólares. E pra sair do porto então foi mais complicado que entrar ou sair do que todos os lugares que já estivemos (com exceção de Los Roques, na Venezuela). Fomos a 4 lugares (em alguns 3 vezes) diferentes, cada um deles tirou 3 copias de nossos documentos, zilhões de carimbos, mais taxas, incrível! O curioso é que em outros lugares aqui nunca enfrentamos estas complicações, vai ver estávamos num parque de dinossauros sem saber...
Voltando a história, apertamos as danadas e saímos do porto. 15 minutos depois, bomba de porão de boreste acionada automaticamente (nunca um bom sinal) – caraca! O selo mecânico recém-instalado soltou, agua entrando pelo eixo do motor. La vamos nós. Consegui recolocar mais ou menos, parou de entrar agua e fomos pra ancoragem só com um motor.
Aí sim começou a novela kkk (ou seria chuif, chuif?). Pra resumir, tivemos que retirar o motor e refazer o tubo pelo qual passa o eixo e onde o selo mecânico fica preso. E com o barco na agua isto significou inúmeros mergulhos tentando bloquear a entrada de agua enquanto fazíamos o reparo. E com o reparo feito, o selo ficou numa posição ligeiramente diferente e tocava no motor. Tome reposicionar o motor mas não muito, senão o eixo não passava. Oooo vida, só rindo mesmo. Explicação – selo mecânico é uma peça que impede a entrada de agua por onde o eixo do motor entra no casco.
Em seguida viemos a Las Perlas com a Poli e o Lyo. Ainda não conhecíamos a Poli e ficamos impressionados- o que uma mulher como ela está fazendo com um traste como ele? Mistérios da vida. Já havíamos conhecido a mãe e a filha do Lyo, lindas, divertidas, charmosas e também nos impressionamos. Mistérios da genética, como um brucutu desses pode ser filho e pai de seres tão superiores a si? Desta feita ele veio com um papo mole que ia pescar etc e tal mas só conseguiu fisgar um atum no último dia e a Paula rebateu na mesma moeda e minuto - os dois embarcaram seus respectivos atuns ao mesmo tempo. A Paula não ia deixar de graça alguém pescar mais que ela... Nem vou comentar o dourado enorme que o Lyo deixou escapar. E perdeu na tranca também! Justiça seja feita, mandou ver na cozinha e preparou um feijão daqueles e peixe assado. Mas não quis revelar suas 5 receitas de batata. De má vontade explicou uma apenas. Nos intervalos, enquanto não estávamos atormentando o Lyo, disputamos acirradas partidas de vôlei na praia com as tripulações dos barcos vizinhos. Em suma, muita diversão e besteirol.
Após diversos estudos financeiros, inúmeras simulações de cenário, analises de fluxo de caixa, origem e aplicação de recursos, cálculos de ROI, EBITDA e afins decidimos pela aquisição de uma poderosa motocicleta de 100 cc, 10 hp e 80 kg, pouco mais que o motor de popa do bote. O que vamos economizar (espera-se) de táxi, ônibus e transportes em geral compensará o investimento... A poderosa máquina foi batizada pela Paula como “Fúria Negra”! Enquanto no estaleiro e usávamos a moto, era comum sermos saudados com o brado “Fúria Negra” quando passávamos por nossos conhecidos locais. Hilário. Mas, cá entre nós, no íntimo ela é conhecida pelo apelido carinhoso de “cotoca”.
Num dia desses, estávamos ancorados num cantinho qualquer e vimos algo se debatendo a flor d'agua. A Paula foi de caiaque conferir e acabou resgatando um passarinho miúdo e exausto. Acolhemos o bichinho da melhor maneira possível, com água, paninhos quentes e tudo mais. O danadinho recuperou-se rapidamente e começou a circular pelo barco, explorando a cozinha, vigia da cabine, as plantinhas... Muito a vontade e sem medo da Paula, pousou na cabeça dela e no bikini (fiquei enciumado, confesso, afinal gosto de pensar que aquela área é exclusiva do meu passarinho, mas enfim...). Aí ele ficou tão cheio de moral que resolveu sair voando do barco, mas ainda não estava recuperado para tanto: foi perdendo altitude e catapimba na água. A Paula ainda correu lá com o caiaque, mas o tadinho já tinha passado desta pruma melhor. Moral da história? Não sei.
Contagem regressiva para a chegada do moleque, atleta de
elite, seu time da escola ganhou um campeonato de futebol e representará o
Brasil na Itália em 2014. Vai Humboldt!
Queridos amigos Mário e Paula,
ResponderExcluirO passarinho sabia que ia morrer. Descobri isso porque o blog de voces chegou com som.
Eu ouvi o bichinho dizer: Meu último desejo...
Veleiro Kanaloa