terça-feira, 27 de maio de 2008

João Pessoa - outubro/2007



O dia das crianças foi passado como se deve, ou seja, como crianças. A Pili e o Ricardo vieram nos visitar e trouxeram nosso presente. A presença do Ali por aqui foi o máximo. Ou como ele próprio disse em outra estada no Pajé tempos atrás: “Ê pai, vida máxima, hein?”

Acompanhar as frases e tiradas do moleque é diversão garantida. Conjugações inovadoras como “se eu fizisse”, “se você tasse aqui”, comidas exóticas como caramão, macarujá, queijo com alho (queijo coalho) e rios fedidos como o Rio de ET (Tietê) fazem parte do nosso diálogo.

Explicar pra ele o infinito, o universo, o que é alma e coisas do gênero nos tornam ainda mais conscientes da nossa própria ignorância. E agüentar o tranco brincando das 5:30 da manhã até as 9 da noite nos quebram na emenda. O bichinho só se aquietava quando pegava à surdina a Playboy que o Ricardo trouxe... Prestava uma atenção...

Aqui em João Pessoa fomos à praia, brincamos com um mini kite usado para instrução, tomamos muita água de coco, comemos caranguejo e tiramos fotos no nariz do Brasil, o Cabo Branco. Sentado no parapeito do mirante o Ali esticava o braço para fora e perguntava: “aqui ainda é o Brasil?”










Futebol? Pode apostar. Parecia tratamento, remédio. Três vezes ao dia, não importava o local, lá íamos nós jogar nossa bolinha. Bolinha, aliás, que foi presente pelo dia das crianças e objeto de uma encenação divertida. Num almoço, batendo papo a toa propusemos ligar para o SPFC e encomendar uma bola. O Alex duvidou. Uma troca de olhares entre os adultos foi suficiente. A Paula deixou a mesa levando um celular. Liguei. O Ali tirou o telefone da minha mão pra conferir e deu com a Paula na linha: “São Paulo Futebol Clube, pois não?”. O moleque enlouqueceu! Saiu correndo procurando pela Paula, mas ela conseguiu esconder o telefone a tempo. Ficou desconfiado, voltou pra mesa onde eu continuava a fingir que estava falando com o clube. Aí ele começou a andar e pular de um lado pro outro falando “Pai, vc tá maluco? Vc é doido, ligou pro clube! Como vc tem o telefone?” Precisava ver o estado que o baixinho ficou. Nas nuvens. O resto é fácil imaginar, escolhemos a cor, encomendamos a bola, etc e tal. E como esse serviço de compra de bolas pelo telefone é super eficiente quando chegamos ao Pajé a bola já esperava por nós...

Vimos os primos que moram por aqui. Farras e fotos, muita alegria em um churrasco a sombra de um enorme jambeiro na casa da tia Isabel. Depois uma visita da turma ao Pajé regada a muitas caipirinhas, cervejas e bolero de Ravel.

A Pil e o Ricardo se fartaram com ensopados de caranguejo e bateram ponto numa padaria todas as manhãs. Você pode tirar as pessoas de São Paulo, mas não pode tirar São Paulo das pessoas! Passeamos pra baixo e pra cima experimentando diversas barraquinhas a beira-mar.



Em uma dessas ocasiões o Ali entrou no mar e se afastou um pouco brincando com as ondas. A maré estava cheia, havia correnteza e as ondas tinham força. Aí ele parou de brincar e ficou quietinho, boiando só com a cabeça fora d’água. Chamei e ele não respondeu. Entrei voando na água e o apanhei. Ele ficou um tempão abraçado comigo sem falar nada. Quando perguntei se estava tudo bem ele deu um sorriso diferente e até agora não sei se foi uma peça que me pregou ou se de fato estava assustado.
O tempo passou voando e lá estávamos nós no aeroporto. De novo emoção, nó na garganta, lágrimas. As conversas com o Alex foram muitas. De pai e filho. De amigos. Algumas divertidas, outras sérias. Todas inesquecíveis.

E vamos ao aeroporto mais uma vez, agora receber a deliciosa Iraci (mãe do mel, em tupi-guarani). Pensei que morando num barco e mudando toda hora de lugar nos livraríamos dela, mas não deu certo. E o pior é que ela não enjoa! E toma dos meus gorós!
























Alugamos um carro (não roubaram os pneus desta vez) e repetimos a geral na região passeando pelas praias de Tambaú, Cabo Branco, Coqueirinho, Barra do Gramame, Camboinha e inclusive Tambaba, onde o naturismo (ficar peladão/peladona) é obrigatório. O lugar é maravilhoso e achei que fosse desfrutar da também maravilhosa mãe do mel nuinha em pelo, mas ela preferiu passar a oportunidade. Embora depois tenha olhado com muita atenção minhas fotos peladão.











Posto que a verba para alugar carros não existe, rapidamente voltamos ao nosso meio de transporte habitual - as bicicletas. Agora além de ter a sogra no barco tomando meus gorós e fazendo gracinhas porque me viu pelado eu ainda tinha que carregá-la na garupa. Ninguém merece.






E como gosta a bixinha de caldinhos e ensopadinhos e caipirinhas e
cervejinhas nas barraquinhas de praia... Todos os dias, enquanto velejávamos de
kite, lá ficava ao sol torrando e degustando tudo que as barraquinhas ofereciam.
As tardes iam mãe e filha tomar capuccino num Café ao lado do Iate Clube.













Um dia abandonamos as bicicletas e fomos de trem até Cabedelo. Visitamos a Fortaleza de Santa Catarina e o mercado de onde voltamos com um polvo, devidamente preparado pela Chef Paula.

Neste período houve uma disputa judicial pela posse do terreno do iate clube e este até mudou de dono por um tempo. Iraci enturmou com o pessoal e nos mantinha informados de tudo o que se passava em vários boletins diários.

Divertidíssimo tê-la conosco e o melhor foi como encarou todas. Bicicleta, praia e a tradicional cachacinha ao final do expediente no cockpit do Pajé. Ao som do bolero de Ravel, claro. No Jacaré, as margens do Rio Paraíba, diversos bares tocam o bolero de Ravel ao por do sol. TODOS OS DIAS! O Iate Clube da Paraíba fica a poucos metros desses bares. Tempos depois, num por do sol em Suape juro que ouvi o bolero de Ravel apesar de estarmos ancorados no meio do nada.


Mas a delícia também se foi deixando saudades e o coração da filhota apertado. Ficamos com nossa conhecida lista de coisas por arrumar: talas da vela grande que haviam se soltado na Refeno, o leme de vento, spots que não acendiam, a botoneira do guincho da ancora, o inversor e outros. Resolvemos também revisar nossa balsa salva-vidas e lá vamos nóis pro Recife.


Como a revisão iria demorar dois dias aproveitamos para visitar as praias ao sul da cidade. Preparei uma merecida surpresa pra Paula no Nannai (valeu Ciso!). Um desbunde. Lua de mel total (nossa 35ª nesses dois anos, creio) em um bangalô polinésio numa piscina privativa. Cama enfeitada com flores, champagne no balde de gelo, frutas, decoração impecável, aquelas coisas de filme, tem que ir pra ver o que é! Se você estiver com quem ama então...
Demos uma passeada por Porto de Galinhas e Maracaípe.

De volta a JP retomamos nossa rotina: velejar de kite, andar de bicicleta, consertar as tralhas e tomar nosso gorózinho. Mas vamos deixar bem claro que as cachaças paraibanas são excelentes, premiadas, coisa e tal, por isso tomamos tanta.

A Paula foi aluna revelação do The Hand, o Jr. Pegou o jeito e em pouco tempo já estávamos velejando juntos, curtindo os bons ventos de Intermares. Segundo o Jr. meu destino será carregar e montar o kite pra Paula, pois ela já veleja melhor que eu. Eu disse pra ele se cuidar porque vamos mudar pra JP e abrir a The Paula Kite School...
A turma do kite em JP é massa! Pessoal boa praça, do bem total, que deixa saudade.
Nas poucas horas vagas investigamos o mercado imobiliário, um crescimento absurdo e preços disparando, a exemplo de Natal. Europeus por aqui.

Intermares, a praia que freqüentávamos, é o único lugar no Brasil (ou será no mundo?) que tartarugas desovam em um trecho urbano.

Vimos uma tartaruga verde morta por ter se enroscado em algo que parecia uma estante. Enorme a tartaruga, mais de 200 kg e idade estimada em 70 anos. Foi enterrada no local pelos biólogos da SAELPA. Mas vimos também alguns ninhos devidamente protegidos e catalogados.
O ciclo da vida, como diria o Rei Leão.


Encontramos a Mira, Jr. e os filhos passando o feriado por aqui e aproveitamos para tomar mais cervejas e comer mais caranguejos. Por do sol? Claro que eles não escaparam da indefectível cachacinha no Pajé ao som de Vocês Sabem Quem. E como amigo é pra essas coisas, levaram nosso inversor quebrado pro Flávio dar um jeito em São Paulo.

E não podemos deixar de mencionar o onipresente primo Walfredo, anfitrião infatigável que tem a capacidade de nos receber bem em todos os lugares que vamos. Por incrível que pareça nos encontramos em JP, Maceió, Salvador e em todas essas ocasiões o danado dava um jeito de nos ciceronear, alimentar e embriagar...

Mas o mundo gira, a Lusitana roda e o Pajé navega! Nos mandamos pro sul, para Suape, depois de quase dois meses na Paraíba. Bom demais.

João Pessoa - setembro/2007

Zarpamos para João Pessoa quinta-feira à tardinha com Alzir e Nelson a bordo e logo avistamos pedidos de socorro. Um pequeno catamarã chamado Ryan havia perdido seu mastro. Via rádio informamos a posição para o pessoal de terra. Ficamos por perto junto com o veleiro Floripa até certificarmo-nos de que o resgate estava a caminho e seguimos viagem. Pois é, fizemos nossa pontinha em O Resgate do Veleiro Ryan. O vento estava acima dos 25 nós e em uma direção que nos fez orçar (velejar contra o vento). O Pajé fez bonito e mesmo com velas bem rizadas (diminuídas) voávamos a 7 nós.

Como perdêramos algumas horas com o Ryan chegamos a João Pessoa/Cabedelo bem no horário da maré vazante e enfrentamos uma correnteza contrária de mais de 3 nós ao entrarmos na foz do Rio Paraíba. Mais uma vez nosso motorzinho fez valer o din-din investido. Fizemos as 260 milhas que separam Noronha de Cabedelo em 40h, apesar do atraso na saída e das condições. Valeu Pajé. Aprovadíssimo mais uma vez.



Nesta semana que estamos aqui em João Pessoa já tivemos um pouco de tudo.
Roubaram dois pneus e rodas do carro que havíamos alugado. Detalhe: o carro estava dentro do estacionamento do Iate Clube da Paraíba. Sensação estranha ir pegar seu carro de manhã e encontrá-lo sobre tijolos. Tínhamos alugado o carro só por dois dias para ajudar naquelas funções típicas de chegadas – compras, lavar roupas, levar Nelson e Alzir ao aeroporto, etc. Que prejuízo.


Velejamos de kite todos os dias e a Paula está feliz: foi para a água logo no primeiro dia de aula e agora já treina as velejadas sozinha, acompanhada apenas de um capacete que a deixa parecida com o franguinho da Sadia.
Nossa condução são as bicicletas e com elas vamos velejar, para a academia, supermercado, comer e tomar umas pelos botecos. Ancorados no Jacaré ouvimos (todo santo dia) o Jurandy do Sax tocando bolero de Ravel ao pôr do sol. Tentamos dedicar algumas horas por dia aos cuidados com nosso barquinho, mas com tanta coisa boa para se fazer tem sido difícil. Mas devagarzinho chegamos lá. Já conseguimos as peças para o leme de vento, providenciamos a tala da vela grande que perdemos durante a regata, o motor de popa reserva está funcionando, o Pajé está limpinho e cheiroso e por aí vai.

Nossa expectativa agora é com a chegada do alemãozinho. O sagüi chega com a Tia Paula e o Ricardo em breve. Aí sim a vida vai ficar agitada!
Em seguida devemos receber Iraci, a sogra mais sensual do planeta com seu corpinho impecável e biquínis minúsculos. Difícil é controlar o riso com a frase predileta do Mario: Dessa vez eu bebo da fonte!

Próximo boletim a qualquer momento, beijos.

Cabedelo, 07/10/07

Recife/Noronha - setembro/2007


A prévia da regata é quase sempre sacal. Um monte de barcos atulhados no Iate Clube sofrendo as vistorias da ANVISA e da Marinha. E tome mostrar medicamentos, alimentos, pirotécnicos, cartas náuticas, coletes salva-vidas, etc, etc, etc. Mas dessa vez foi inédito: um dos vistoriadores da marinha pediu um certificado do engenheiro naval atestando que o barco teria condições de efetuar a travessia! Ainda bem que o supervisor do sujeito percebeu o absurdo.

Mas isso passou e logo os amigos-tripulantes começaram a chegar: Alzir, regateiro de Lightning e cervejista convicto; Flávio, velejador de Hobie e amigo de anos; Luiz e Lúcia Helena, cervejeiros amigos de Ilha Grande e de batizados heterodoxos e o Nelson, baixista do The Doctors e veterano de velejadas no Pajé.


Todos a postos fizemos uma largada mediana e devagarzinho fomos nos ajeitando. O Alzir foi de trimmer (o camarada que regula as velas), o Flávio de navegador, a Paula de gerente geral das desorganizações Pajé, o Nelson e Mario de sonecas, o Luiz com a sua máxima Caguei! foi de filósofo e a Lúcia Helena foi de balde mesmo.

Os apelidos, como sempre, não tardaram: Asmir, Jasmir, Nilton, Fábio, Gigante, Valente, Roncador e o Seu Noronha, solícito marido de Louça Helena. Em um dos turnos, os meninos surpreenderam a Paula ao discutir acaloradamente sobre a novela, com palpites mil a respeito de quem matou quem, desempenho dos atores, etc. Depois dizem que mulher é noveleira...

Velejada magnífica e papo melhor ainda. Os Pirajás viraram Ubirajaras e depois Ubiratãs. Chegamos todos mais magros e amigos em Fernando de Noronha. A chegada foi o máximo, ao amanhecer com toda a tripulação trabalhando entrosadíssima e o DJ Nelson levantando a galera com uma seqüência de músicas impecável.



Ficamos felizes e orgulhosos: fizemos a regata em 40 h, chegamos em 35º na geral em um total de 86 barcos (atrás apenas de catamarãs e monocascos maiores ou de regata).






Aí foi aquele ritual de caipirinhas, cervejas e besteirol em um cenário de tirar o fôlego: Conceição, Sancho, Leão, Dois Irmãos e a linda capelinha, palco de nossas declarações de amor. Hospedamo-nos em duas pousadas e no Pajé durante as noites. Os dias passamos juntos pelas praias, botecos e restaurantes. Mais besteiras e risadas.
Mergulhamos em um naufrágio no portinho de Santo Antonio e nos divertimos descendo ao túnel formado pelos escombros do grande barco... Um congestionamento de peixes... Ei! Dá licença, quero passar!

O Trio Ternura composto pelo Asmir, Nilton e Fabio divertiu-se descobrindo seus estranhos hábitos noturnos. Dizem inclusive que um deles, gigante do mercado financeiro, tinha um baby-doll de seda dourado.

O Flávio voltou a São Paulo com um pedaço do leme de vento para o Alex soldar. Amigos são para essas coisas.