domingo, 23 de março de 2008

Um até breve a Paraty - julho/2007



Após horas, dias, semanas, meses de preparativos que incluíram pintura de costado e fundo, revisões das partes mecânica, elétrica e hidráulica, do leme de vento, desentortar guarda - mancebos, galvanizar ancoras e correntes, remendar velas, costurar almofadas, trocar a madeira da borda falsa, as baterias, escotas e adriças, filtros, conexões, mangueiras, porcas, parafusos, grampoletas e rebimbocas o Pajé estava como sempre: ótimo e ainda cheio de coisas para ajeitar! Até o enrolador tentamos arrumar (enrolador da genoa, não o Mario), mas em ambos os casos fracassamos... O enrolador não desenrola e o Mario só enrola!

Como diz o Alex Ufer, a quantidade de coisas para arrumar no barco é uma constante: cada vez que você elimina um item aparece outro. No Pajé sempre mantemos algumas tarefas a serem feitas para diminuirmos o risco de aparecerem outras piores.


A Paula que veio ao Pajé com a promessa de uma vida ativa e ao ar livre - não pode reclamar: seus primeiros meses foram plenos de pinturas e lixadas e escovadas e palhaçadas e cervejadas e risadas e algumas outras adas impublicáveis.

Houve um momento em que estávamos trabalhando tanto, tanto, que a trilha sonora era “entrei de gaiato no navio, entrei, entrei pelo cano”.



Decidimos dar um tempo. Tiramos férias e fomos para a Ilha Cotia, um dos cantinhos mais sossegados que conhecemos. Com o Pajé devidamente abastecido de vinhos e mantimentos escolhidos a dedo, ancoramos a poucos metros da praia deserta e passamos uma das melhores semanas das nossas vidas. Passeios de bote pelos mangues, mergulhos, frescobol, wakeboard e deliciosos jantares à luz de velas preparados com esmero pela Chef Paula: robalo com manga, risoto de camarão com aspargos frescos e outras delícias.

Refeitos, voltamos às manutenções preventivas. Nossos vizinhos do Planckton, Cecília (com o Igor ainda na barriga) e Fábio acompanhavam a maratona e também participavam nas muitas horas boas em cachoeiras, jantares e passeios na Ilha Grande.

Algum tempo depois ajeitamos bicicletas, computador, ipod, máquina fotográfica, tela de cristal líquido, CD player, pranchas de surf, wake, kite, windsurf, roupas de tempo e equipamentos de mergulho. Enchemos armários e gavetas com itens de primeiríssima necessidade (dezenas de biquínis, havaianas, bandanas e faixas pro cabelo), 500 litros de diesel e 1000 de água, um moleque de 5 anos de idade e nos mandamos. Soltamos as amarras numa manhã chuvosa de sábado, deixando Paraty – nosso cantinho especial por tantos meses – para trás.

Para a Paula, friozinho na barriga, afinal a mudança é grande. Mas, segundo ela: “tô seguindo meu amor e isso só pode me levar a um bom lugar!”
O Mario, obtuso como sempre: “é nóis!”



O Fred, amigo do Ali, também com 5 anos de idade e sua mãe, a grande amiga Andréa (idade não revelada), embarcaram no Pirata´s Mall poucos dias depois e fomos para a enseada do Sítio Forte em Ilha Grande. Enquanto o Mario dava uma limpadinha no casco numa água fria pra dedéu, Paula e Andréa mandaram ver no preparo dos quitutes para a viagem e os guris se divertiram pescando diversos peixinhos e os devolvendo ao mar.

Agitamos durante os dias e tiramos as noites pra falar com a família. Dona Iraci surpreendeu com sua fluência na Internet, o que nos garantiu boas conversas via Skype. Nina e Cláudio também batiam ponto nas conversas internéticas. Apesar das saudades e preocupação das mamis as conversas sempre corriam entre muitas piadas e risadas.
Saímos de Ilha Grande dia 04/08, sábado de manhã, de olho na previsão do tempo. Queríamos encontrar uma frente fria na altura de Cabo Frio para nos ajudar a passar pelo Cabo de São Tomé (esse trecho comumente apresenta ventos e corrente de nordeste, ou seja, contrários para quem sobe à costa brasileira). Essa frente fria nos interessava muito porque seria bem leve e, com a molecada a bordo, preferíamos mar e vento calmos, mesmo que com isto tivéssemos que motorar um pouco.

E assim foi. Só que chegamos um pouco antes e demos de cara com vento e mar de nordeste. Algumas horas apenas, mas suficientes para arrancar nossas duas luzes de navegação de proa, o banquinho de madeira que ficava no púlpito e encher o paiol da âncora de água.

Aí chegou a frente fria, amena como previsto e tivemos uma excelente navegada, inclusive com a necessária motorada para chegarmos em Abrolhos.
A molecada tirou de letra, brincando o tempo todo (com intervalos para breves arranca-rabos) e comendo muito. O Alex insistiu em fazer um turno da noite com o Mario e de fato ficou lá fora, o tempo todo. Os dois amigões!

Paula, para sua própria surpresa, saiu-se melhor do que imaginava. Stugeron é mesmo um santo remédio! Confirmou sua vocação para marinheira cuidando de todo mundo, fazendo longas horas nos turnos e mandando ver durante o dia com refeições, cuidados, arrumações, etc. Andréa mareou e sofreu um pouco. Só um pouquinho... Fred estava em casa, achamos que nem percebeu que estava velejando.
São Tomé distanciou e em mais uma noite de turno, ficamos juntos até 1 da manhã esperando o nascer da lua, um daqueles momentos que nos faz acreditar em amor eterno! Noite estrelada, avenida de navios, plataformas de petróleo. No som Stones, Beatles, Pearl Jam, Ben Harper... Noite incrível, dá pra entender a paixão do Mario pela vela. A emoção era tanta que Paula esticou seu turno até as 6 da matina. Nascer do sol ao som de Carmina Burana – inesquecível. Sensação de felicidade plena! Segunda feira começando, bem diferente de tantas outras segundas... Uma nova vida.














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