As Islas Perlas são jóias! Ou que tal: são um tesouro? Ou
pior então: são verdadeiras pérolas! Desaforo começar com trocadilhos
fraquinhos assim né? Mas o fato é que fomos surpreendidos e estamos muito bem impressionados com
estas ilhas. As praias são lindas e, com as grandes variações de maré, mudam
constantemente ao longo do dia. A água tá clarinha e quente e há muita vida.
Avistamos baleias com uma frequência incrível. Mesmo a noite, ancorados, muitas
vezes se aproximam tanto que podemos escutar seus borrifos.
O quarteto Sanchez (não são interpretes de música clássica,
mas não deixam de ser uma família muito afinada) - nossa, mais um trocadilho infame, desculpem – enfim, esses quatro
compartilharam conosco um pouco deste lugar e também ficaram impressionados com
a quantidade de baleias. Antes de desfazer as malas já haviam avistado algumas
e logo a seguir, a caminho da primeira praia, o Carlos fisgou um belíssimo
dourado. Nessa mesma noite o Diego e Felipe se espalharam no trampolim para
contar estrelas cadentes. A única coisa que faltou foi aparecer uns golfinhos,
fica pra próxima Arlete. Em algum lugar do Pacífico, combinado? Afinal o Felipe
e eu ainda não terminamos a sessão de piadas...
Começamos o relato com coisas boas e vamos agora ao
inevitável resto: mazelas náuticas, ou a tirania da má-nutenção, nosso tema predominante. Sádicos,
preparem-se para o prazer. Masoquistas, preparem-se para a inveja. Mas peraí: se
ter inveja é sofrer e masoquista gosta de sofrer, então inveja é prazer! Logo, Pajé orgulhosamente apresenta para o prazer de sádicos e
masoquistas, mais um capítulo da sofrível (ui, mais um gracinha, não resisti)
saga das coisas quebradas a bordo.
Para começar, demos uma topadinha de leve numa marvada e
sorrateira pedra submersa, tsc tsc tsc. Depois o Pajé aprontou uma das suas e
desalinhou novamente os lemes. Não bastando, a transmissão do motor de bombordo
travou (a do motor de boreste já havíamos $ub$tituido alguns meses atrás).
Assim, de repente, sem mais nem menos, sem eira nem beira, sem preliminares,
prólogos, prolegômenos ou aviso prévio nos vimos sem um dos motores e com o
timão inoperante. E óbvio que estávamos numa ilha. Valente, fui tirar a
transmissão. Fui vencido por uma chaveta emperrada. Passou-se uma semana até
que a transmissão fosse retirada, enviada a cidade e volta$$e a bordo. Conseguimos instalar e navegamos para a cidade improvisando no leme.
Esse negócio dos lemes desalinharem nos tirou do sério de
vez. Para acabar com o problema resolvi tirar as válvulas de sincronização do
sistema hidráulico (um amigo entendido me disse que as mesmas é que causam o
problema). Mandamos fazer mangueiras e conexões novas e claro, no dia que
instalei e fui testar apareceu um vazamento que não existia. Resignado e
resoluto, limpei a lambança de óleo (com farinha, grande dica do Guga) e
encomendei mais uma mangueira e conexão. Em seguida, ao instalar e testar,
apareceu um vazamento em outro lugar. Mai$ uma mangueira etc. Instalei e?
Vazamento em outro lugar! Cacildaaaaaa! Deu! Agora vamos trocar todas as
mangueiras e conexões. Neste empobrecedor processo tenho estado muitas horas,
dias inteiros imerso em lugares impensáveis e em posições impossíveis lambuzado
de óleo, sangue, suor e lágrimas. Aguardem, as novas mangueiras chegam em
breve, vcs serão informados.
Toda boa novela deve ter diversas tramas
paralelas. Vamos as nossas. Quando chegamos aqui na cidade, felizes com nossa
improvisação no leme e a transmissão consertada, a Paula foi descer a ancora e
nosso guincho repentinamente gemeu diferente e vazou seu óleo. O pobre já estava com dois outros problemas -falência
múltipla de órgãos seria o diagnóstico mais apropriado- e também desisti de
tentar arrumar. Muito caro e iriamos continuar com um guincho velho.
Assim, dor, encomendamos um novo.
Outra trama paralela? Aquela topadinha na pedra entortou levemente o
eixo do leme. Retiramos, consertamos e recolocamos no lugar. Neste processo, ao mergulhar, dois mini e miseráveis caranguejinhos entraram no meu ouvido. Foram expulsos com algumas gotas de álcool e nem morreram os abusados, saíram correndo (bêbados, imagino) pelo convés!
Mas as membranas do dessalinizador finalmente pararam de vazar, agora só falta uma gotinha na válvula de pressão...
Mas as membranas do dessalinizador finalmente pararam de vazar, agora só falta uma gotinha na válvula de pressão...
Movimentada nossa novela não? E tudo isso nos últimos 15 dias!
Aí me perguntam como tá de peixe em Las Perlas, se estou
mergulhando e pegando muitos... Fantasticamente ainda não mergulhei uma única
vez. É mole? Claudião, estamos te esperando para começar a temporada, deixa de
enrolar e venha logo.
Mas tá tudo bem, o saldo (não na conta bancária) é positivo. Padeço de maneira sub-humana e merecidamente desço ao subsolo da ignomínia. Paula, entretanto, espírito evoluído e cada vez mais linda, inteligente, sensual e maravilhosa aperfeiçoou uma receita de ossobuco que faz tudo valer a pena e ainda lançou-se em nova carreira
artística: produtora de vídeos. Confira os links.
Inté.
foto: familia Sanchez |
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