quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Bora Bora - setembro/09


Exibir mapa ampliado


A velejada até Bora Bora começou bem preguiçosa, a sotavento de Tahaa. Mas quando saímos da proteção das montanhas vento e mar aumentaram. As ondas ficaram especialmente confusas, vinham pelos dois lados da ilha e ainda se espremiam no canal que separa Tahaa de Bora Bora. O vento chegou aos 25 nós e ao contornarmos aponta sudeste de Bora Bora algumas rajadas atingiam 30 nós. Mas estava um belo dia de sol e não dava pra reclamar, só 20 milhas a serem navegadas.







Há um único passe que permite a entrada no lagoon. Os imponentes montes Pahia e Otemanu dominam a paisagem e são visíveis por toda a ilha, inteiramente cercada por um enorme lagoon cuja água assume centenas de tons de verde e azul. As nuvens mais próximas ficam tintas de verde pelo reflexo da água. Até mesmo a barriga branca dos pássaros fica colorida. Diversos motus com areia branquíssima (agora apinhados de hotéis com seus bangalôs sobre a água) completam a paisagem. Em diversos locais ao redor da ilha percebe-se nitidamente o formato da cratera do vulcão que a originou. Dizem que Bora Bora é a ilha mais bonita do mundo...

Por aqui também os indefectíveis remadores e suas pirogas com flutuadores laterais. Em todas as ilhas que visitamos na Polinésia francesa os avistamos, certamente é um dos esportes prediletos. Os polinésios são em geral muito fortes e vigorosos, capazes de remar velozmente por horas. Fica fácil entender como no passado os visitantes dessas ilhas se assustavam com a aproximação destas canoas. Fica fácil também entender os nativos de outrora e suas crenças. Imagine uma montanha portentosa no meio da ilha, um monolito espetado no céu e que fizesse os ventos ficarem mais fortes a sua volta. Hoje sabemos que os ventos aceleram ao descer a encosta das montanhas, mas na época só dava pra achar que era coisa dos deuses mesmo.

Ancoramos em diversos lugares, demos nossa tradicional voltinha de moto, velejamos de kite e mergulhamos de novo (bocejo) com tubarões. Tivemos chuva, sol, ventão e calmaria. Encontramos o Silvio e a Lilian do Matajusi, brasileiros que também estão velejando por aí e já conhecíamos por email. Hugolino Bedu progride no kite a olhos vistos para orgulho da família e vizinhos. O Silvio se empolgou e também entrou na dança. Na fila: Talita e Gislayne.

Celebramos com pompa e circunstância o aniversário de trocentos anos de Dona Gislayne. Presentes, bolo, brigadeiro, salgadinhos (teve até coxinha e risoles), parabéns a você e um dueto das flautas de Talita e Silvio, um luxo!

Gostaríamos de ficar mais tempo por aqui, mas as regras de imigração não o permitem e, com a aproximação da estação dos ciclones, todo mundo está se mandando para lugares onde eles não passam. Nossos companheiros Bicho, Canela e Itusca já estão nas ilhas Cook . E é para lá que vamos Beduína, Matajusi e Pajé. A previsão do tempo está boa e queremos aproveitar, são 500 milhas até lá. Boas novas, já que ninguém terá que agüentar meu besteirol por um bom tempo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Raiatea & Tahaa - agosto/09


Exibir mapa ampliado

Raiatea e Tahaa são duas ilhas que compartilham a mesma barreira de corais e ficam bem ao lado de Huahine - 20 milhas. Saímos pela manhã com um ventinho favorável que, como de praxe, virou contra no final. Os ventos por aqui são muito variáveis, uma surpresa. Esperávamos alísios constantes como o NE brasileiro ou o Caribe, mas aqui nessa época não vimos uma semana inteira com o mesmo vento. Sempre entra uma pauleira ou outra, o mar cresce e o tempo fica encoberto. Por vezes ficamos presos numa ilha uma semana esperando o tempo melhorar para navegarmos até a próxima. Se há chuva ou o céu está encoberto os lugares perdem um pouco da sua beleza, a água não fica com todos aqueles tons e cores. E se o vento está muito forte nos preocupamos com o barco e os passeios em terra são prejudicados.


Nossa estada em Raiatea e Tahaa sofreu um pouco com os fatores acima, não pudemos aproveitar tudo que as ilhas oferecem. Mas alguma coisinha a gente sempre acaba fazendo...

Uma volta por Raiatea nos deixou com os popos dormentes e exaustos, afinal 100 km em cima de uma minimoto são de arrebentar até os fundilhos mais resistentes.


Este doloroso dia valeu pela visita a um Marae (local onde antigamente os polinésios realizavam diversas de suas cerimônias político-religiosas) a beira-mar. Raiatea possui uma grande quantidade destas ruínas por ter sido a ilha dominante nestes cerimoniais. A que visitamos, além de ocupar uma vasta área, está muito bem preservada. Como o local todo é muito bem cuidado e com placas explicativas torna-se um passeio agradável e instrutivo.


A outra aventura foi tirar os barcos (Beduína, Bicho e Pajé) do lugar onde havíamos atracado: um cais publico bem apertadinho. Claro que no dia que queríamos sair entrou um ventão que espremeu todos contra a parede e, com barcos por todo lado, ficou muito difícil manobrar. O bote do Pajé virou rebocador e nos safamos intactos, sem máculas a reputação náutica brasileira.




A previsão de tempo só mostrava ventão, fizemos do limão uma caipirinha: fomos a um motu apropriado e acabamos com nosso jejum kitístico! Desde o Panamá não velejávamos, como pode? Morar a bordo, viver no mar e ficar quase seis meses sem velejar de kite... Não dá pra explicar. Mas as fotos devem mostrar como foram os poucos dias que passamos ancorados em Mahea. Irados!


Mas o vento continuou a aumentar, o tempo fechou e a ancoragem ficou muito desconfortável. Decidimos nos abrigar do outro lado de Tahaa onde ficamos entocados no Pajé, já que nossos sofridos bumbuns não queriam mais saber de passeios de moto. Muita leitura, internet, jantares e jogatinas com os vizinhos Beduínos. Dias a frio com chuva e vento uivando lá fora, acredite se quiser! Inverno, negão...


Dizem que cabeça vazia é morada do diabo, que o ócio é o pai de todos os pecados, etc. Numa segunda-feira chuvosa, enfurnado, tive momentos de indescritível prazer sádico ao enviar para alguns grandes amigos um email intitulado “segunda-feira”, sem nenhum texto, apenas algumas fotos das sessões de surf em Huahine e kite em Mahea. Já que os caras nunca me escrevem nem dão bola, achei justo. Foi o suficiente para responderem com uma rapidez nunca dantes vista. As respostas, sem exceção, continham toda espécie de protestos, xingamentos e palavrões. Bingo! Nada como bons amigos...

Certa manhã o vento deu uma trégua e fomos embora pra Bora Bora (uia, outro trocadilho tão infame que encerro aqui para o seu devido deleite). Em breve, mais afrontas ao bom gosto literário.