sábado, 14 de dezembro de 2013

Islas Perlas - dez/13

Duas semanas atrás fomos ao estaleiro para pintar o fundo do barco.
Contamos com a ajuda do pessoal do Lil´Explorers na manobra, que consiste em atracar o barco numa plataforma rígida que desce abaixo do nível da agua, sobe até o nível do solo e depois carrega o barco sobre trilhos. Foi nossa primeira vez nesse sistema, gostamos. A plataforma era bem justinha para a boca do barco, as defensas entraram apertadas. Claro que na hora mais crítica entrou a maior chuva e ventão pra complicar. Todos ensopados, mas a manobra saiu beleza. Pena que na hora de subir o pessoal do estaleiro apoiou mal o casco de bombordo e danificou um pouco a fibra na proa.

Pronto, pensamos, começou a novela e o pesadelo... Mas que nada. Desta vez o pessoal do estaleiro foi impecável. No dia seguinte as 7 da manhã já tinha gente trabalhando no reparo e trabalhando bem, antes mesmo de falarmos sobre o assunto. Pela primeira vez na história conseguimos realizar as tarefas planejadas no prazo, apesar do acidente na subida. E sem nenhuma, vejam bem, nenhuma discussão ou problema com o estaleiro. Como é bom quando encontramos pessoas profissionais e honestas. Viva o Astillero Nacional, recomendamos!

Mas calma, não vou desaponta-los, a choradeira começa agora: assim que o barco foi colocado na agua e ligamos os motores começou a entrar agua pela exaustão do motor de boreste, as abraçadeiras não haviam sido bem apertadas. Ancoramos o barco no meio do porto e toca a apertar as danadas.

Ah, falei em porto e lembrei! O estaleiro é ótimo, mas a burocracia no porto de Vacamonte é surreal. Assim que chegamos recebemos a visita da imigração, saúde e controle portuário. Imigração!? Mas já estamos X anos no Panamá! Não teve jeito, tivemos que pagar uma taxa. Inspeção sanitária?! Mas que praga podemos estar trazendo, navegamos somente 15 milhas da cidade até aqui. Mais 90 dólares. E pra sair do porto então foi mais complicado que entrar ou sair do que todos os lugares que já estivemos (com exceção de Los Roques, na Venezuela). Fomos a 4 lugares (em alguns 3 vezes) diferentes, cada um deles tirou 3 copias de nossos documentos, zilhões de carimbos, mais taxas, incrível! O curioso é que em outros lugares aqui nunca enfrentamos estas complicações, vai ver estávamos num parque de dinossauros sem saber...

Voltando a história, apertamos as danadas e saímos do porto. 15 minutos depois, bomba de porão de boreste acionada automaticamente (nunca um bom sinal) – caraca! O selo mecânico recém-instalado soltou, agua entrando pelo eixo do motor. La vamos nós. Consegui recolocar mais ou menos, parou de entrar agua e fomos pra ancoragem só com um motor.

Aí sim começou a novela kkk (ou seria chuif, chuif?). Pra resumir, tivemos que retirar o motor e refazer o tubo pelo qual passa o eixo e onde o selo mecânico fica preso. E com o barco na agua isto significou inúmeros mergulhos tentando bloquear a entrada de agua enquanto fazíamos o reparo. E com o reparo feito, o selo ficou numa posição ligeiramente diferente e tocava no motor. Tome reposicionar o motor mas não muito, senão o eixo não passava. Oooo vida, só rindo mesmo. Explicação – selo mecânico é uma peça que impede a entrada de agua por onde o eixo do motor entra no casco.

Em seguida viemos a Las Perlas com a Poli e o Lyo. Ainda não conhecíamos a Poli e ficamos impressionados- o que uma mulher como ela está fazendo com um traste como ele? Mistérios da vida. Já havíamos conhecido a mãe e a filha do Lyo, lindas, divertidas, charmosas e também nos impressionamos. Mistérios da genética, como um brucutu desses pode ser filho e pai de seres tão superiores a si? Desta feita ele veio com um papo mole que ia pescar etc e tal mas só conseguiu fisgar um atum no último dia e a Paula rebateu na mesma moeda e minuto - os dois embarcaram seus respectivos atuns ao mesmo tempo. A Paula não ia deixar de graça alguém pescar mais que ela... Nem vou comentar o dourado enorme que o Lyo deixou escapar. E perdeu na tranca também! Justiça seja feita, mandou ver na cozinha e preparou um feijão daqueles e peixe assado. Mas não quis revelar suas 5 receitas de batata. De má vontade explicou uma apenas. Nos intervalos, enquanto não estávamos atormentando o Lyo, disputamos acirradas partidas de vôlei na praia com as tripulações dos barcos vizinhos. Em suma, muita diversão e besteirol.

Após diversos estudos financeiros, inúmeras simulações de cenário, analises de fluxo de caixa, origem e aplicação de recursos, cálculos de ROI, EBITDA e afins decidimos pela aquisição de uma poderosa motocicleta de 100 cc, 10 hp e 80 kg, pouco mais que o motor de popa do bote. O que vamos economizar (espera-se) de táxi, ônibus e transportes em geral compensará o investimento... A poderosa máquina foi batizada pela Paula como “Fúria Negra”! Enquanto no estaleiro e usávamos a moto, era comum sermos saudados com o brado “Fúria Negra” quando passávamos por nossos conhecidos locais. Hilário. Mas, cá entre nós, no íntimo ela é conhecida pelo apelido carinhoso de “cotoca”.

Num dia desses, estávamos ancorados num cantinho qualquer e vimos algo se debatendo a flor d'agua. A Paula foi de caiaque conferir e acabou resgatando um passarinho miúdo e exausto. Acolhemos o bichinho da melhor maneira possível, com água, paninhos quentes e tudo mais. O danadinho recuperou-se rapidamente e começou a circular pelo barco, explorando a cozinha, vigia da cabine, as plantinhas... Muito a vontade e sem medo da Paula, pousou na cabeça dela e no bikini (fiquei enciumado, confesso, afinal gosto de pensar que aquela área é exclusiva do meu passarinho, mas enfim...). Aí ele ficou tão cheio de moral que resolveu sair voando do barco, mas ainda não estava recuperado para tanto: foi perdendo altitude e catapimba na água. A Paula ainda correu lá com o caiaque, mas o tadinho já tinha passado desta pruma melhor. Moral da história? Não sei.

Contagem regressiva para a chegada do moleque, atleta de elite, seu time da escola ganhou um campeonato de futebol e representará o Brasil na Itália em 2014. Vai Humboldt!




























Uns roem o osso, outros mordem a fronha...












terça-feira, 12 de novembro de 2013

Islas Perlas - nov/13

Depois de tanta manutenção realizada e já descrita, ainda fizemos mais algumas e nas próximas semanas faremos ainda algumas mais.

Mas deixa pra lá. Também tivemos excelentes momentos. A maioria das baleias já foi curtir o verão na Antártica, agora passamos dias sem avistar nenhuma. O que avistamos muito ultimamente são golfinhos e pequenas arraias mantas que se divertem saltando. O mais divertido é que são muitas, pequenas e continuam batendo suas “asas” ao sair da água, como quisessem alçar voo. As vezes parecem um monte de pipoquinhas pulando. E quem quase pulou feito pipoquinha fui eu, ao avistarmos uma tromba d`água quando chegávamos a Contadora num final de tarde destes. Ainda bem que durou pouco e não se aproximou muito.

Tivemos o prazer de conhecer e passar um dia delicioso na Ilha Taboga com os divertidíssimos Arthur e Margareth, descansando um pouco por aqui entre etapas do seu belo projeto - Um piano pela estrada e um sorriso pela estrada.

Nas Islas Perlas conseguimos fazer alguns mergulhos e sempre voltamos com peixe. Apesar da água não estar tão cristalina como San Blas, tem muito, muito mais vida - cardumes imensos e muitas vezes peixões enormes.

Outro dia estava limpando o fundo do barco em frente a ilha de Contadora e, ao terminar, peguei o arpão e consegui um belo olho de boi embaixo do barco. Xaréus, pargos e cavalas são frequentes e a Paula continua garantindo os seus peixes no corrico.

Semana passada o Paolo apareceu por aqui com o Zé Ramirez, Tuto e André, todos mergulhadores em Ilha Bela. Organizamos alguns dias de pesca com uma panga e fomos bater alguns pesqueiros mais afastados. A presença de um pangueiro, alguém a bordo de um bote/barco de apoio é indispensável nos mergulhos mais ousados. Há muita correnteza e em caso de arpoar-se um peixe grande é importante ter ajuda.

Os dias mergulhando foram muito produtivos.  Belos olhos de boi, xaréus, pargos e pescadas amarelas (chamadas corvinas aqui), excelentes no ceviche. Mas o melhor sempre mesmo é a companhia dos amigos, as piadas e inevitáveis gozações mútuas. Quem pegou o maior peixe (sempre menor do que aquele que escapou e ninguém viu, claro), quem viu isso, quem viu aquilo, a correnteza, etc. Mas desta vez, como prova uma das fotos, não houve margem pra duvidas: o maior peixe foi um olho de boi pego pelo Zé, pesado e conferido por todos - 23 kg!

No momento estamos curtindo algumas outras ancoragens menos frequentadas e brevemente voltaremos a cidade do Panamá para organizar a subida do barco, pintura do fundo e outras coisinhas mais. Dezembro está chegando e com ele o Ali e também, finalmente Suzan, Beto, Cristina e Marcelo.
Inté.