Após a partida da Nana, Kauli e Janjão começamos a correr
atrás da construção de um novo leme pro Pajé.
Já estávamos preparados para enfrentar toda espécie de
dificuldade, pois construir um leme não é o mais simples dos projetos e, em Tonga
então, desanimador. Fizemos o que podíamos - encomendamos os materiais,
preparamos o molde e nos preparamos para a longa espera que sabíamos estar a
frente.
Grandes amigos já estavam a caminho. Resignados com nosso
barco “lemeta” como disse a Paula, fomos cuidar do resto.
Tonga foi renomeada Ventonga. Caracolas, com venta nesse
lugar nesta época. 22, 25 kts todos os dias.
As baleias começaram a chegar e foi tornando-se comum avista-las
com seus bebês aos saltos e alegres estripulias.
Sem saltar, mas felizes também, chegaram a Aninha, Dri,
Leda, Val e Max. Experientes no Pajé esta turma já havia navegado conosco no Panamá,
nas Tuamotu e agora vinham curtir um mergulhinho com as baleias. Além das
diversas garrafas recheadas com líquidos extremamente desejáveis, ganhamos
também um jogo americano com fotos da viagem anterior, show.
A água estava um pouco mais fria do que o desejável, mas
ninguém desanimou: logo no primeiro dia fomos a duas cavernas submersas - Mariner's
e Swallow's. Na primeira tem que se mergulhar um pouco mais de um metro de
profundidade, nadar por uns quatro e emergir do outro lado em um salão
iluminado apenas pela luz que entra pela mesma fresta que vc entrou, filtrada
pelo azul profundo do pacífico sul. Um arraso. Uma tênue neblina torna tudo
ainda mais mágico.
Swallow's cave é muito maior, uma verdadeira catedral onde
consegue-se entrar com o bote. Uma vez lá dentro, é só mergulhar. Diversos
cardumes, com zilhões de peixinhos, habitam o local. E, de novo, aquela água e
luz mágicas. A gente mergulha um pouco e é cercado por peixinhos por todos os
lados. A quantidade é tão grande que não conseguíamos ver uns aos outros quando
éramos rodeados pelos cardumes.
Bem, foram vários mergulhos em outros lugares deslumbrantes
e não vou chateá-los descrevendo um a um.
Mas não posso deixar de contar um mergulho com uma jubarte.
Estávamos ancorados numa pequena reentrância nos corais, entre as ilhas Pau e
Ngau, quando avistamos uma gorduchinha nadando em nossa popa.
Pulamos todos no bote e conseguimos nos aproximar bastante,
o suficiente para cair de snorkel na água e acompanhar a baleia por
inesquecíveis momentos. Mais tarde, mudando de ancoragem, Pajé e baleia ficaram
boiando lado a lado, câmeras e fotógrafos a toda.
Entrou um vendaval e fomos buscar abrigo numa baía bem
protegida, numa poita, já que o fundo de pouca areia sobre coral liso não
ajudava. A Paula caprichou ainda mais na cozinha, ainda tínhamos um bom estoque
de vinhos franceses e tudo ficou ótimo.
No penúltimo dia passamos uma tarde deliciosa em Nuku, uma
das ilhas mais bonitas e, sem dúvida, com um dos nomes mais instigantes. Dizem
que a realeza inglesa vem descansar por aqui as vezes.
Embarcamos nossos amiguinhos em mais uma daquelas avionetas,
mas pelo jeito já estão acostumados, pois em Guna Yala e Tuamotu já tinham
encarado coisas parecidas.
Repetindo o que ocorreu no ano anterior, pouco depois deles
partirem recebemos a Lu e o Chiquinho, outras duas figuras. Desta vez, além das
cachaças, as garrafas vieram jateadas com o nome Pajé e os isopores com fotos
da temporada na Polinésia Francesa. Nosso enxoval de mesa está um desbunde com
tantos presentes temáticos.
Eles não mudaram nada: Lu na água o tempo todo e Chiquinho
vigilante, sempre se hidratando. A Lu veio com uma prioridade clara – mergulhar
com as baleias. Para garantir, saíram com a Paula em uma expedição local, para
passar o dia em encontros cetáceos. Deu tudo certo, foram horas de mergulhos
muito próximos, e voltaram a mil. O Chico teve uma jubarte passando por baixo
dele tão perto, tão perto, que ficou até com saudades dos tubarões de Bora
Bora. Pra Lu, foi pouco, queria mais!
As partidas de tranca seguiram animadas e disputadíssimas,
criamos dois monstros.
Voltamos, óbvio, as cavernas e seguimos deslumbrados com a
magia da luz e cardumes.
Ancorados em Kenutu, curtimos muito uma piscina natural que
se formava na maré baixa, uma tranquilidade cheia de corais, estrelas,
peixinhos coloridos e um monte de outros bichos estranhos que não fazemos idéia
o que eram. Quem sabe fossem até ETs, vai se saber...
Chiquinho estava impaciente para conhecer Nuku, e fizemos o
grand finale por lá. Brincadeiras a parte, o lugar é lindo mesmo, de cair o
queixo. Tanto é que os locais vão lá passar o tempo livre quando podem.
Nossos queridos tiveram que ir embora e combinamos nos
encontrarmos em Natal assim que possível.
Depois de tantos amigos, atividades e tempo, voltamos a nos
dedicar ao leme. Obviamente, os materiais não haviam chegado ainda da Nova Zelândia. Claro, só passaram 5 meses...
Por compromissos assumidos no Brasil e voos marcados, não
pudemos esperar nem os materiais nem nossos queridos amigos da Família
Schurmann, que estavam para chegar. Uma pena de verdade! Seria maravilhoso
reencontrar o Vilfredo, Heloisa, David, Wilhem e os novos integrantes da
família.
Um casal de amigos kiwis topou levar o Pajé pra Nova
Zelândia, onde está agora no seco, num estaleiro para receber merecidas
manutenções (gerador, janelas e gaiutas vazando, reforçar os pés de galinha,
tentar mais uma vez consertar o sistema hidráulico do leme, refazer mais um
leme, etc, etc etc etc etc).