terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ilhas Sociedade, Polinésia Francesa - nov/14

Moorea, Ilhas Sociedade. Ancorados em oito metros de água cristalina. Próximos ao passe de entrada na baia Opunohu, vizinha a famosa Cook`s bay. Onde estamos, em 1777, foi a primeira baia onde Cook ancorou em Moorea. Mas a baia ao lado levou o nome, vai se entender. A menos de 100 metros, uma praia pública, paradisíaca com coqueiros e montanhas verdíssimas logo atrás. Lindo, mas não é por isso que estamos aqui.

O principal e verdadeiro motivo de estarmos ancorados, imóveis há mais de 15 dias, é outro. Uma lojinha próxima vende baguetes fresquinhas. Tão boas que desaparecem instantaneamente. Depois de tentarmos várias vezes comprar os pães as seis da manhã e, mesmo assim, voltarmos de mãos abanando, aprendemos. Agora a rotina é acordar cedo, dar uma corridinha, apanhar o pão e voltar ao barco para o café da manha. Experientes em comercio internacional, fizemos um trato com os donos e o nosso agora está reservado.

Mas nem só de baguete vive o homem e temos aproveitado estes dias também para cuidar do barco – limpar o fundo, linha d’água, motor, troca disso e daquilo, etc e tal.

Também conseguimos acesso, caríssimo, a internet e estamos lendo bastante. Ou seja, tranquilidade. Em breve, muito em breve - estamos contando os dias - começarão as férias do Ali e tudo se agitará. Muitos voos, aeroportos e diversão.

Escolhemos Moorea como base temporária pois, além de linda e próxima a Papeete, é muito tranquila e com diversas ancoragens que possibilitam kite, wake, surf e mergulhos com arraias e tubarões, todas coisas que queremos curtir com o Alex. Também conseguimos uma boa marina com preços razoáveis pra podermos deixar o barco em nossas ausências. A temporada dos ciclones está por ai e tudo indica que este será um ano de El Nino, portanto com maior chance de tempo ruim: melhor ter um abrigo reservado.

De agosto até agora navegamos pelas ilhas sociedade. Passamos um bom tempo aqui mesmo, em Haapiti, onde há um passe com boas ondas. Muita gente surfando e velejando de kite. Bons dias com o André, Suzana, Thiago, André, Hugo e Lu – ondas de dia, churrascos, moquecas e cervejas a noite. Os jovens todos com o surf afiado. O velhinho aqui tentou acompanhar, vexame, claro, mas divertido. 

Rimos muito numa das noites quando tocou “É proibido fumar”. O Thiago disse que gostava da música e lembrava da infância/adolescência dele. Falei que não era possível, ele tem 25 anos, e eu lembrava desta música da minha infância. A Paula matou a charada: ele falava da versão que estava tocando, com o Skank, e eu, dinossauro, falava da versão original com o Roberto Carlos... Sem comentários.

 Como o espirito do momento era surf, fomos até Teahupoo acompanhar uma etapa do campeonato mundial. Lotado! Para ver as ondas uma dificuldade, muitos barcos manobrando o tempo todo. Com nosso motor do bote morrendo de 2 em 2 minutos deu para ficar preocupado: imagina o motor apagar na hora que está entrando uma série? Afe, não gosto nem de pensar. Mas aproveitamos e o melhor é que o Gabriel Medina, brasileiro, levou a etapa.

O Rairau, taitiano amigo do Thiago, mora com sua família por ali e nos levou a um passeio incrível. Navegamos de bote por um rio até onde foi possível e o deixamos amarrado na vegetação. Uma boa caminhada passando por piscinas naturais e chegamos a uma gruta com uma piscina interna. Detalhe: a mais completa escuridão. Com a turma nadamos bem adentro, não se via necas de pitibiribas. Se estivéssemos sozinhos nunca teríamos ido tão longe, mas como o Rairau estava junto... Em outra das piscinas, a céu aberto, voltamos a infância balançando e nos atirando de uma corda presa em uma arvore.

Saímos de Tahiti com nossos amigos do Lil Explorer`s e fomos a Huahine, onde passamos dias deliciosos jogando vôlei, mergulhando e passeando com a poderosa Fúria Negra. O Lil se mandou pra Tonga e nós fomos a Raiatea e Tahaa. Reencontramos por lá o Plum com Enrico e Giulia. Ancoramos lado a lado e aproveitamos os dias alternando velejadas de kite e wind. A noite, alternávamos cozinha italiana e brasileira.

Fomos juntos ao passe Nao Nao no sul de Raiatea, buscando atuns nos mergulhos. O Enrico havia ali arpoado e perdido um pros tubarões pouco tempo atrás e queríamos ir à forra. Mas em todas nossas tentativas só havia muita correnteza e ficou nisso mesmo. Mergulhar nesses passes é uma operação e tanto- tem que ter bote de apoio, bóias, o escambau. A presença dos tubas também complica um pouco. Arpoou algo, rápido pro bote que os tubas chegam num instante. Não é meu tipo de mergulho preferido, mas o Enrico virou tarado. Acho que criei um monstro, porque quando começamos a mergulhar juntos em San Blas ele não era assim, mas pegou gosto.

Aí o Plum foi cuidar da vida com seus convidados e nós fomos a Bora-Bora.

Matamos as saudades de várias ancoragens e paramos em nossa predileta, na ponta Faroone. Três metros de profundidade de uma água que não dá pra descrever, então nem vou tentar. Logo ali o monte Otemanu, percebe-se claramente o contorno do extinto vulcão, um desbunde.
Minha nossa, que lugar deslumbrante. A polinésia é toda linda, não tem jeito. E essa ancoragem...

O tempo passou deliciosa e romanticamente.

Voltamos pra Huahine e nossa ancoragem predileta no sul da ilha. Conseguimos recuperar os óculos escuros que, em minha senilidade, havia esquecido ao lado da quadra de vôlei há mais de um mês, quando lá estivemos com o Lil. Nossos amigos locais encontraram e guardaram pra gente. Legal, né? Bem diferente do pilantra que nos afanou em Apataki.

Fomos convidados pelo Richard e família para um almoço típico em sua casa, em frente a qual estávamos ancorados. Domingão, lá fomos com cervejas geladas e uma sobremesa feita pela Paula. Mesa com toalha florida posta na praia, cadeiras de plástico, tudo debaixo de uma sombra acolhedora e aquela brisa gostosa. A poucos metros, o Pajé boiando na água turquesa. No cardápio peixe cru com leite de coco, mandioca, purê de batata doce, peixe assado, defumado, banana assada, salada e muitas Hinanos, a cerveja local. Papo animadíssimo, apesar da gente não falar lhufas de polinésio e o francês ser sofrível. E voltamos ao barco com os braços cheios de cocos, bananas, papayas e mandiocas.
Bons momentos.

Dias após, fomos com a potente Cotoca a um riacho visitar as enguias sagradas. Elas tem olhos azuis e são tão mansas que vem comer na mão. Na volta encontramos o Richard e seu filho à beira da estrada trabalhando duro, carregando troncos. Tentamos retribuir a gentileza do almoço e ajudei a terminar o carregamento. Dia seguinte me chamam a praia. Voltei novamente com o bote cheio de frutas. Esses polinésios são imbatíveis, não paramos de nos surpreender com sua simpatia e hospitalidade.

Acompanhamos um eclipse lunar completo conhecido como lua de sangue, algo assim. O eclipse já é um fenômeno e, neste especialmente, a Lua adquire tons avermelhados. Sorte maravilhosa estar no lugar certo, na hora certa.

Em seguida conhecemos Angela, Rachel, Ricardo e Schury, turma super animada em férias por essas bandas. Amizade imediata, passeios de bote e vinhos na varanda do hotel e no cockpit do Pajé. Como já tinham um roteiro definido, combinamos continuar as degustações e mentiras num próximo destino aqui pelo Pacífico.

O passe próximo a ancoragem tem ondas bem mumus (adequadas para surfistas de quinta categoria como eu) e, melhor ainda, o mar estava ridiculamente pequeno. Me esbaldei com o pranchão.

Mas alto lá! Lu e Chiquinho chegaram! Estas duas figuras vieram trocando de avião sem parar de Natal até Huahine, imaginem a maratona. Chiquinho, desidratado, foi logo socorrido e medicado com diversas ampolas de Hinano. Reagiu tão bem ao tratamento que não mais largou as ampolas durante todo o tempo que esteve conosco.

E tome causo, lorota, história, piada, lenda. Demos uma velejada linda entre Huahine e Tahaa, apesar dos dourados não aparecerem. A Lu e a Paula conseguiram nos arrastar para um passeio pelas matas de Tahaa que acabou se tornando muito interessante e instrutivo. O Alain, morador há 30 anos, sabia tudo da flora e fauna local, além de conhecer muito da cultura e história polinésia. Visitamos uma plantação de baunilha e aprendemos um monte sobre os usos das plantas, raízes e flores locais. Pelo caminho algumas árvores caídas deram um pouquinho de trabalho, justificativa para Hinanos adicionais.

Depois de tanto mato, mais um pouquinho de mar. Passamos horas mergulhando num calmo e raso canal entre dois ilhotes, onde se formou um verdadeiro jardim de corais. A água estupidamente cristalina. Peixes de todas as cores e formatos. Corais idem. Que nos lembremos, o melhor lugar pra snorkel que já vimos. Tanta variedade, cor, transparência de água, somados a tranquilidade de se estar num local raso e seguro formam uma combinação difícil de bater. Até correnteza favorável tem, nem precisa nadadeiras.

A Lu sonhava em conhecer Bora Bora e achamos que não se decepcionou. Em cada uma das ancoragens foi a primeira a cair na água e a última a sair. Chiquinho, companheiro, na popa, debaixo do intenso sol polinésio, acompanhava os intermináveis banhos da Lu bebericando sua indefectível geladinha.

A Paula descolou um pouco de peixe e fomos alimentar arraias e tubarões perto da barreira de corais. Um lugar raso, água como sempre transparente, onde as arraias e tubarões frequentam e são costumeiramente alimentados pelos barcos locais. Uma festa. Dezenas de tubarões galha preta circulam próximos esperando uma sobrinha, já que as arraias, menos assustadoras e mais desinibidas, se aproximam das pessoas, se esfregam e comem os peixes na mão. Divertido demais. As bichinhas são muito simpáticas e hilárias se esfregando, tateando com as nadadeiras, querendo seu peixinho. Digamos que Lu mostrou-se mais a vontade que o valente Chiquinho, que hesitou longamente para entrar na água. Homens...

Apesar de ainda termos algumas cervejas na geladeira, nossos amigos tiveram que partir. Como consolo, as cachaças fresquinhas que eles trouxeram.

Voltamos a Moorea numa mega motorada, o mar espelhado. Parecia Paraty, zero de vento. Céu e mar de um azul tão intenso que dava vontade de chorar. Aproveitamos para dar uma acelerada nos motores, coisa que raramente fazemos. Em rotação de cruzeiro conseguimos fazer as 100 milhas entre Raiatea e Moorea com luz do dia, muito bom não ter que fazer turnos nem chegar de noite.  Valeu Pajé.

Feliz Natal e ano novo!


Inté