quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nova Zelândia - boletim ordinário - nov/09


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Estamos há muito pouco tempo por aqui, mas nos intervalos dos churrascos outras coisas interessantes vêm acontecendo. Todas confirmam: amigos são o melhor de tudo.
Poucos minutos após atracarmos na marina, James e Lorna, (do Mind the Gap, que conhecemos em Abrolhos dois anos atrás) vêm ao Pajé e nos presenteiam com uma legítima cachaça brasileira e alguns limões. Impressionados perguntamos como haviam conseguido a cachaça, já que era de uma marca paraibana que apreciamos muito. Ora, era a mesma garrafa que havíamos lhes dado quando nos separamos no Brasil... Tudo acabou em caipirinhas, desfrutadas com eles e Bel, Bob, Sombra e Cristiano.
Novos amigos? Vários brasileiros estabelecidos por aqui, todos muito simpáticos e fazendo de tudo pra colaborar. Assim que todos os barcos brasileiros chegaram rolou um super churrasco na casa da Patrícia, com direito a cantoria, etc... O Sombra vive emprestando carro e ferramentas pra todo mundo.
Outra de amigos: com Mariana e Marcello fomos a Auckland de ônibus e nos hospedamos na casa da outra Mariana (irmã do Marcello) e do Fabricio. E eles conseguiram nos deixar sem graça com tanta hospitalidade e paciência. Nos levaram pra baixo e pra cima, fizeram churrasco (óbvio) e ainda ajudaram com a compra de um carro e outros itens de primeira necessidade (um kite – o meu praticamente se desfez em Tonga e uma roupa de mergulho 5mm - parece que tem muito peixe por aqui mas a água é gélida). Muita paciência mesmo, sem comentários.

Mais uma de amigos? Tá bom... Freqüentadores assíduos desse blog, nossos vizinhos do Beduína se superaram dessa vez: Gislayne “não aceito não” botou na cabeça que iria nos ajudar na pintura do fundo do Pajé (nossa única atividade ultimamente). Bem, essa mulher está trabalhando enfurecidamente há dias. Lixa, põe massa, pinta, coloca fita, tira fita, sobe em escada... No fim sobrou até pra Talita, que já ganhou seu pincel e rolo também. Pro amigHugo restou nos ajudar a refazer a linha d’água e outras coisitas mais...

Amigos, obrigado! Não tenho palavras (nem dinheiro) para agradecer.

E, claro, obrigado meu amor, que dentro de seu sensual macacão branco, se contorcia no chão para pintar todos os ângulos da quilha do Pajé.

Além disso a Nova Zelândia tem sido muito agradável. Até um carro compramos. Por ser muito barato, fácil e se revender com pouquíssima perda, grande parte dos cruzeiristas faz o mesmo. O processo de transferência dos veículos é de dar pesadelo aos donos de cartório brasileiros, simplicíssimo: o comprador vai a uma agencia dos correios e preenche um (isso mesmo UM) formulário, paga 10 dólares e sai com o carro em seu nome. O vendedor nem precisa ir, envia as informações depois. Seguro? Você liga para um 0800, passa os dados, o numero do cartão de crédito e pronto. Ao término da ligação o seguro já está válido. Pedágio? Diversas placas na estrada avisam que você está entrando numa zona tarifada. Câmeras registram a placa de seu carro, depois você entra na internet e paga.
Até pizza, acreditem vocês, os caras entregam em casa! Não é o máximo?

Esse lugar é tão legal que finalmente meu valor como escritor foi reconhecido. Após anos no anonimato, sofrendo o desprezo da crítica, o escárnio dos amigos e a piedade da família, tive meu momento de fama. De fato, ninguém é profeta em sua própria terra! Agora me agüentem, pois apesar de não passar de um chato no Brasil, fui agraciado com um prêmio aqui na Nova Zelândia. De mero blogeiro a escritor reconhecido, premiado e aclamado internacionalmente. É a glória, é a glória.

Participei de um concurso de “tall stories” (algo como historias exageradas, lendas) sobre a travessia de veleiro até a NZ, promovido pelo iate clube local. Não é que ganhei? Incrível, não?
Agora, quando vocês estiverem lendo o blog não o precisam fazer as escondidas ou envergonhados.

Para seu desespero, que devem estar loucos para ver as fotos da Paula, segue na postagem abaixo (Minerva 25+) a tremenda mentira que contei para ganhar o tal concurso. Perdoem o inglês, que verão, consegue ser ainda pior que o meu português.

Minerva 25+ (tall story) - nov/09

It was blowing 25+ kts already, the day coming to its end and we were flying at 8 kts, all sails up in our 46’ aluminium cutter Pajé, trying to get to North Minerva´s reef pass while still there was light.

As going at that speed we would barely make it in time we decided to hoist our gennaker, despite the wind coming already from our beam. Hoisting it on that kind of conditions would count as a tall story itself but we managed it and soon we were going at 10+ kts, spray all over.

Few miles to the pass and some low lying clouds started bringing gusts and shifts, but we still kept the kite flying while our leeward freeboard lost all its freedom underwater.

Heavy rain now, sun below the horizon. Pass is few minutes away. Oops, now is dark, where was the pass? Depth meter starts moving fast, a lightening shows breakers right there at our lee, touch bottom, the strongest squall hits, we heel even more, all rigging shaking madly, get free from the reef and keep moving, already inside the lagoon, thinking the worst was over.

Then the engine does not start. Paula moves forward to get chain and anchor prepared. I put the autopilot on and prepare to bring the chute down. It does not. Grab a knife, put it between my teeth, climb the mast Polynesian style, cut the halyard at the mast top, slide down through the forestay. Gennaker falls down, brakes Pajé that rotates into the wind, Paula lets the anchor go. We made it!

Bringing the sail on board again was tough, but we were well rewarded with two nice lobsters that got caught in it. Nice candle light dinner, with lobsters, champagne and the wind howling at 35 kts outside!





sábado, 21 de novembro de 2009

Nova Zelandia - nov09


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Nuku´alofa, todo mundo esperando a tal janela de tempo, que chega rapidinho. Começa a debandada. Vamos parar em Minerva reef, um banco de corais distante uns dois dias de navegação. Até lá, uma velejada tranqüila. Beduína, Canela, Matajusi e Pajé resolveram dar uma paradinha. Valeu muito à pena.


Tal qual Beveridge, Minerva reef é inóspito e isolado. Águas tranqüilas e cristalinas. Muitos veleiros por lá, todo mundo a caminho da N. Zelândia. A bancada de coral é bastante extensa e rasa. Quando a maré começa a vazar inicia-se um espetáculo incrível: o nível da água dentro do lagoon desce mais rápido do que as ondas conseguem repor, formando uma pequena cachoeira.
Debaixo da cachoeirinha tinha uma lagosta, tinha uma lagosta debaixo da cachoeirinha...
Mas as lagostas eram escassas. No segundo dia passamos horas procurando em vão. Pelo menos voltamos com um belo peixe. Sempre de olho na meteorologia nos mandamos para a perna final, meras 700 milhas. A saída foi maravilhosa, pescamos um belo atum logo no passe e o vento estava perfeito. Todos os barcos voando acima dos 7 nós.


Na medida em que avançávamos para o sul o vento rondou para Sudeste e aumentou, começando a ficar desconfortável. Com os brasileiros falávamos pelo rádio, toda manh
ã e início da noite e com o resto da flotilha esporadicamente. As previsões de tempo eram analisadas e discutidas duas vezes por dia... Um frio daqueles, usávamos calças compridas (primeira vez na minha vida num barco), meias, gorros e agasalhos dia e noite. Nova Gelândia, sois fria! O que nao mudou foi o desempenho da Paula na cozinha: tivemos sushi e sashimi, pao fresco, carne assada e sobremesas variadas. Alèm disso fez toda a navegacao, analisou as previsoes de tempo que recebiamos via satelite e fazia os contatos pelo radio SSB. Agora, alem de completamente obsoleto tornei-me um fardo, sò falta ela comecar a tirar o pò de cima de mim...


Certo dia a previsão mostra uma frente de sudoeste em forma
ção e bem em nosso caminho (o que todos temiam), mas parecia não muito forte (o que todos torciam). O Pajé rumou mais para oeste para obter um melhor ângulo quando o vento rondasse, outros barcos ficaram mais a leste. O sudoeste entrou (ainda bem que como torcíamos e não como temíamos) e quando demos o bordo conseguimos rumar direto pra Opua, nosso porto de chegada. Todo mundo ajudando com motor na medida do possível e, com algum penar, chegamos todos sãos, salvos e cansados. Pelo caminho tivemos que trocar o cabo do enrolador da genoa, esvaziar o paiol da ancora que foi inundado e lamentar a perda das luzes de navegação de proa, levadas por algumas ondas mais afoitas.

Os próximos desafios seriam a alfândega e biosegurança neozelandesas, de quem havíamos ouvido misérias a respeito. Como acontece na maior parte das vezes, puro terrorismo. Os oficiais foram muito educados e não criaram problemas. Mas de fato diversos alimentos foram confiscados: ovos, feijão e grãos em geral, verduras, legumes e carnes.


Burocracias resolvidas, agora estamos envolvidos com a incrível logística de trazer nosso amado sagüi burugundum para suas férias. Nos intervalos, manutenção e churrascos! Além dos diversos brasileiros residentes em Opua, por aqui também encontramos o Sombra do Guardian, o Cristiano com o Vagabond e o João com o Zazoo. A média tem sido churrasco dia sim, dia não, chova ou faça sol, porque frio sempre faz...