Mas há males que vem para o bem. Quando finalmente colocamos o barco na água, decidimos não voltar a Spanish Waters naquele mesmo dia, pois chegaríamos muito tarde e estávamos muito cansados. Naquela noite Curacao foi atingida pelo inicio do furacão Omar, que castigou a ilha por quatro dias, ainda como tempestade tropical e com ventos acima dos 45 nos. Isso nos reteve pela sexta semana na marina, mas foi melhor. O pessoal que estava em Spanish Waters nos contou que a coisa ficou feia por lá.
Enquanto estávamos na marina reencontramos o Derek e a Alison, do Kalida, conhecidos desde 2005 no Brasil e também ficamos amigos do Frank e Gretchen do Infinity.
E como amigos nunca são demais reencontramos em nossa volta a Spanish Waters os brasileiros Valdo e Claudia do Jasmin, o Marcelo do Gardian e o Elio do Crapun. E imediatamente iniciou-se uma serie de almoços, jantares e deliciosos bate papos.
Estava tudo muito bom, mas já estávamos bastante atrasados em nossa viagem para a Colombia para visitar Nina e seu infatigável e ardente marido Claudio quebra-pernas. Ela vem se recuperando de uma fratura , que segundo a versão oficial foi causada por uma queda no banheiro... Mas não nos deixemos enganar: a fratura deve ter sido causada por um rompante de paixão em tórrida noite de amor, quando os mais selvagens e primitivos impulsos sexuais os levaram a cometer incontáveis desatinos que culminaram no hospital. Jovens... Impetuosos, impulsivos, irrequietos nunca medem as conseqüências de sua volúpia, deixam-se levar pelo turbilhão de sensações, pela busca frenética dos prazeres carnais, pelos ímpetos hormonais, a sofreguidão domina sua mente, corpo e alma!
Precisávamos encontrar esses dois desajuizados e trazê-los de volta ao bom senso. Mostrar a eles que essa vida desvairada e os prazeres imediatistas causados pelo excesso de sexo, drogas e rock & roll poderiam acarretar sérias e danosas conseqüências ao seu desenvolvimento psicológico, social, moral, biológico, físico e químico. Urgia termos acesso imediato e irrestrito a adega de Don Claudio, sacrificaríamo-nos ingerindo o rubro veneno, esvaziando todas suas garrafas e afastando-os desse mal, amém!
Mas para tanto tínhamos que navegar 500 milhas. Resolvemos sair num final de tarde e dormir numa outra baia, para ir a Aruba na manha seguinte. Só que o vento estava tão fraquinho, o mar tão calminho e fazia tanto tempo que a gente não navegava que decidimos tocar direto pra Aruba, distante 70 milhas de Curacao. Assim que anoiteceu o vento aumentou e fomos reduzindo os panos para não chegarmos a noite. Mas ventava e tinha correnteza a favor e o Pajé continuava acelerando. Resultado: ficamos em árvore seca, ou seja, sem velas e o Pajé andava a mais de 4 nós. Mas deu certo e chegamos ao amanhecer.
Aruba
A imigração e alfândega foram as mais rápidas que vimos até agora. A ilha parece estar completamente voltada ao turismo, principalmente ao turista que chega nos grandes navios de cruzeiro. Uma infinidade de pequenas lojas de souvenirs, restaurantes, bares, cassinos, joalherias, etc. Mesmo assim, nos causou uma boa impressão e tivemos vontade de ficar mais tempo, reforçada por termos encontrado o pessoal do Eagles Nest e pelas incríveis facilidades financeiras. Lá parece que o aperto monetário –creditício não chegou: vejam a foto! Quis aproveitar a oportunidade, mas a Paula não deixou...
Saímos no dia seguinte com o Infinity rumo a Colombia de olho numa janela de bom tempo, (a navegação neste trecho é considerada a mais difícil do Caribe e entre as 5 piores no mundo). Uiiii...
Velejamos umas 260 milhas em dois dias com bom tempo, vento e corrente a favor, do jeitinho que a gente gosta. De vez em quando dá tudo certo, até um pequeno atum pescamos. Ancoramos em Gairaca, Cinco Baías, já em território colombiano. Uma baía linda, com poucos moradores e muito parecida com as baías de Paraty e Angra. Fomos nadando até a praia e assim que pusemos o pé na areia um cara super simpático que estava por lá com mulher e filha se aproximou, apresentou, nos deu boas-vindas e puxou papo. E logo depois o Reinaldo, um morador do local também se aproximou, ofereceu ajuda no que precisássemos e fez questão de nos mostrar sua casa. Obviamente ficamos encantados e já gostamos de cara do lugar e dos colombianos.
Quando fomos mergulhar então ficou melhor ainda. Lagostas, hmm...
Fizemos algumas caminhadas com o Frank e a Gretchen que se tornaram bons amigos. Acabamos ficando uma semana por lá, pois o tempo ficou ruim e tivemos que esperar para navegar o próximo trecho. Apesar da baía ser bem abrigada, as rajadas entravam fortes por todos os lados, virando botes, adernando os barcos e não deixando ninguém dormir tranqüilo.Quando fomos mergulhar então ficou melhor ainda. Lagostas, hmm...
Saímos com vento bem fraco e chuva e tivemos que dar uma motoradinha para chegar na próxima ancoragem, Punta Hermosa, ainda de dia. Nesse trecho cruzamos a foz do rio Madalena, onde a corrente contrária a maré cria ondas curtas, cavadas e desencontradas, tornando a navegação muito desconfortável . Como passamos sem vento o mar estava calmo, mas deu pra perceber o potencial problema do local.
Dormimos chacoalhando debaixo de uma chuva torrencial, raios, trovoes e mosquitos. Saímos de manhazinha rebocando o Infinity, que estava com defeito no motor. Chovia, chovia e chovia. Zero de vento. Chegamos a Cartagena no meio da tarde e ancoramos próximos ao Club Nautico, o ponto de apoio dos cruzeiristas por lá.
Fizemos um rápido reconhecimento do local, conhecemos o Bob e a Isabel, brasileiros do Bicho Vermelho que estão há algum tempo por lá e nos deram boas dicas.
Arrumamos o Pajé rapidamente e nos mandamos pra Bogotá. Aqui chegando fomos recebidos com todos os mimos e paparicos. Imediatamente nos atiramos à premente tarefa de esvaziar a adega do Claudio. O problema é que ela é aparentemente inesgotável e, além de não termos conseguido afastar o temerário casal dos seus já relatados delitos, fomos aliciados e passamos longas horas nos dedicando a partidas de tranca, nosso mais novo vício.